terça-feira, 30 de julho de 2013

Bruxismo e disfunções Temporomandibulares

O bruxismo define-se como um anormal cerramento e/ou ranger dos dentes, seja durante a vigília seja durante o sono. Pensa-se que o bruxismo possa causar os sintomas da disfunção temporomandibular (DTM) ou que as duas condições clínicas podem co-existir, sendo que a ligação exata entre as duas ainda não é clara.
Uma série de estudos tem mostrado uma forte relação entre bruxismo e DTM. Um desses estudos observou 212 pacientes com diagnóstico de DTM e o bruxismo foi encontrado em 87,5% dos pacientes com dor miofascial com deslocamento do disco articular e em 68,9% dos pacientes com dor miofascial sem deslocamento do disco. Uma revisão de 46 artigos não mostrou, no entanto, um nexo de causalidade entre os dois. A relação entre ambas é ainda complexa e necessita de mais investigação.

O que provoca o bruxismo?

Pensa-se que o bruxismo durante a vigília está relacionado com fatores psicossociais, como stress  ansiedade e depressão. Hábitos como roer as unhas, mascar lápis e morder na língua ou bochecha também são considerados formas de bruxismo acordado.

Quanto ao bruxismo durante o sono já se pensou que também estava relacionado com esses mesmos fatores psicossociais, no entanto, a investigação atual não suporta isso. Pensa-se agora que os fatores centrais, como micro-despertares durante o ciclo do sono, são a causa mais provável do bruxismo no sono, também conhecido como parafunção ou parassonia.

Durante o ciclo normal do sono temos reativações do cérebro que nos tornam mais conscientes do ambiente à nossa volta, sem estarmos realmente acordados. Essas reativações são conhecidas como micro-despertares e servem para que o nosso corpo possa reajustar a temperatura, a frequência cardíaca e respiratória e para nos acordar, se qualquer ameaça for percebida. Estes despertares geralmente ocorrem uma ou duas vezes por minuto e duram apenas alguns segundos.

Um estudo descobriu, através de electroencefalograma, que as pessoas com bruxismo durante o sono tinham um número significativamente maior de micro-despertares do sono do que os indivíduos saudáveis. Estes despertares extras foram mais comuns durante o sono não-REM e a maioria dos episódios de bruxismo também ocorreu durante o sono não-REM. Este estudo também descobriu que a frequência cardíaca aumentou durante os episódios de bruxismo. 

Acredita-se que o aumento da frequência cardíaca causada por um número excessivo de micro-despertares provoca aumento da atividade neural, que por sua vez estimula os neurónios motores, resultando em contração rítmica dos músculos da mastigação e bruxismo. Curiosamente, verificou-se que cerca de 60% dos indivíduos saudáveis também têm contracção rítmica dos músculos da mastigação, mas sem contacto dos dentes. 

Estima-se que até 20% da população sofre de bruxismo, e destes até 20% têm sintomas de DTM.
A maioria dos episódios de bruxismo ocorre em decúbito dorsal e são mais comuns em pessoas com apneia do sono, distúrbios do sono e sonâmbulos. O bruxismo torna-se menos comum com o avançar da idade.

Sinais e sintomas

Muitos pacientes não se apercebem que apertam ou rangem os dentes, especialmente se tiverem bruxismo do sono. Os seguintes sintomas podem ser indicativos de bruxismo:
  • Queixa do parceiro sobre o barulho de ranger de dentes.
  • Acordar com os dentes cerrados.
  • Acordar com sensibilidade e restrição nos músculos da mastigação.
  • Acordar com sensibilidade nos dentes ou nas gengivas.
  • Entalhes com a marca dos dentes na parte interna das bochechas ou as bordas da língua.
  • A hipertrofia dos músculos masséter.
  • Desgaste dentário excessivo.
  • Estalido ou bloqueio, dor na ATM, dor de cabeça.
  • Ressonar pode ser um indicador de bruxismo durante o sono.

Tratamento


 Fisioterapia - devem ser avaliadas com precisão a região temporomandibular do paciente, a coluna cervical e a postura. É fundamental questionar o paciente especificamente sobre o bruxismo. Os pacientes são mais propensos a relatar casos de bruxismo quando questionados especificamente sobre isso. É importante incorporar isso como parte de uma avaliação DTM.

 Educação do Paciente - Se o bruxismo do paciente ocorre durante o dia, então é necessário educação e aconselhamento para ajudar a mudar hábitos como roer unhas, mascar lápis e cerrar a mandíbula. Ajudar o paciente a identificar e tratar os factores causadores de stresse na sua vida diária pode ser útil. Em alguns casos, os pacientes podem beneficiar da terapia de relaxamento, e exercícios respiração. Encaminhamento para um psicólogo pode ajudar alguns pacientes.

 Higiene do Sono - Educação sobre a boa higiene do sono também pode ser útil. Os pacientes devem ser aconselhados a evitar grandes refeições, álcool e cafeína dentro de três horas antes de dormir e melhorar o seu ambiente de sono, garantindo baixa ou nenhuma luz, o mínimo de ruído, sem animais ou crianças no quarto e tentar ter um horário mantido de deitar e acordar.

 Estudos do sono - Se se suspeita de um distúrbio do sono, como a apneia do sono ou outros distúrbios do sono, o paciente pode se beneficiar de um encaminhamento para uma clínica do sono para estudos mais pormenorizados.

 Dificuldades respiratórias - Se o paciente sofre de quaisquer distúrbios respiratórios, incluindo alergias, é necessário consultar o seu médico de família para investigação e tratamento.


 Placas oclusais - Há evidências para apoiar o uso de placas oclusais durante a noite para pacientes com bruxismo do sono. O objectivo destes splints é manter os dentes levemente separados, mesmo quando o paciente aperta ou range. Isso reduz a compressão da articulação temporomandibular (ATM) e também pode reduzir os danos a longo prazo para os dentes. As investigações demonstram também uma redução nos níveis de atividade do masséter e temporal e redução da dor após o uso de uma placa oclusal à noite.





Fernandes G; Franco AL; Siquiera JT; Gonçalves DA; Camparis CM; Sleep bruxism increases the risk for painful temporomandibular disorder, depression and non-specific physical symptoms. J Oral Rehabil. Vol. 39, No 7, pg. 538-44, 2012.
Manfredini D; Cantini E; Romagnoli M; Bosco M; Prevalence of bruxism in patients with different research diagnostic criteria for temporomandibular disorders (RMC/TMD) Cranio, Vol. 21, No. 4, pg. 279-285, 2003.
Huynh N; Kato T; Rompré PH; Okura K; Saber M; Lanfranchi PA; Montplaisir JY; Lavigne GJ; Sleep bruxism is associated to micro-arousals and an increase in cardiac sympathetic activity. J Sleep Res. Vol. 15, No. 3, pg. 339-46, 2006.
Macaluso GM; Guerra P; Di Giovanni G; Boselli M; Parrino L; Terzano MG; Sleep Bruxism is a Disorder Related to Periodic Arousals During Sleep, J Dental Research, Vol. 77, No. 4, pg. 565-573, 1998.
Lavigne G; Morrison F; Khoury S et al; Sleep-related pain complaints: morning headaches and tooth grinding, Insom. Vol 7, pg. 4-11, 2006.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Dicionário Saúde e Fisioterapia

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G


Gaucher, Doença de caracterizada pela deposição de glicocerebrósido, um glicolipídio, em células reticuloendoteliais; as manifestações clínicas compreendem esplenomegalia, hepatomegalia, aumento do tamanho dos linfonodos, e lesões ósseas.
Gavagem introdução de elementos nutritivos no estômago por meio de um tubo.
Geiger-Muller,Tubo de tubo cheio de gás que contém um cátodo cilíndrico e um eletrodo de arame axial, utilizado para a detecção de radioatividade; as partículas radioativas penetram na luz do tubo e produzem pulsações de correntes momentâneas no gás.
Gel estado semi-sólido de um colóide coagulado.
Gel condutor substância em estado de gel capaz de conduzir a corrente elétrica.

Gêntula 1. broto que se desenvolve até originar um novo organismo; 2. tumefações de forma esférica às vezes existentes nas prolongações protoplasmáticas (dendritos) das células nervosas; 3. na Teoria de Darwin sobre a hereditariedade, as partículas que se transferiam das células somáticas para as germinativas.
Gene bloco básico de construção do cromossoma, o material genético das células. Unidade hereditária que ocupa uma posição fixa no cromossoma e é capaz de auto-reproduzir-se em cada divisão celular e de induzir a formação de proteínas.
Genética ciência que estuda a hereditariedade, tanto normal quanto patológica.
Genu recurvatum deformação congénita ou adquirida do joelho, caracterizada por um ângulo de abertura anterior, formado pela perna e a coxa durante a extensão máxima.
Genuvalgo situação inversa àquela descrita para o genuvaro, que envolve as articulações dos joelhos e dos cotovelos, onde, através de observação durante a avaliação postural com o auxílio de raios X em posição frontal, sempre com o indivíduo em posição ortostática (em pé) e em posição anatómica, verifica-se que estas articulações convergem para "dentro" das suas linhas medianas, sobrecarregando assim as estruturas laterais das mesmas.
Gerador de padrão central rede neural capaz de gerar padrões comportamentais relevantes de comandos motores na ausência de impulsos aferentes.
Geriatra médico especializado no tratamento das doenças relacionadas ao idoso.
Geriatria ramo da medicina que se ocupa das pessoas da terceira idade e de suas doenças, quer sejam estas próprias da idade, quer sejam doenças que apresentam aspectos particulares do idoso.
Gerontologia ciência que estuda o processo de envelhecimento.
Gesso (Aparelho gessado) aparelho de contenção fabricado por meio de tecido impregnado de sulfato de cálcio que, após ter sido molhado, endurece ao secar. É empregue para imobilizar as fraturas ou diversas lesões osteoarticulares.
Gestação ectópica gestação fora do útero.
Gibosidade bossa devida a uma convexidade posterior (cifose) da coluna vertebral; pode ser de origem traumática, infecciosa ou congénita.
Ginástica laboral atividade física desenvolvida no ambiente de trabalho, atuando de forma preventiva e terapêutica, através de exercícios que vão compensar as estruturas utilizadas durante a função e ativar outras que não estejam a ser solicitadas, tendo como objetivo a prevenção e tratamento das Lesões por Esforços Repetitivos/Doenças Osteomusculares Relacionadas com o Trabalho (LER/DORT).
Ginecologia ramo da medicina que estuda as doenças do aparelho genital feminino, a sua prevenção, tratamento e acompanhamento.
Glenoumeral relativo à cavidade glenóide e à cabeça umeral.
Glicogénio forma de armazenamento dos hidratos de carbono no corpo, encontrada predominantemente nos músculos e no fígado.

Glicólise quebra química incompleta de glicogénio, com o produto final de ácido pirúvico na glicólise aeróbica e ácido lático na glicólise anaeróbica.
Gliose proliferação do tecido neuroglial no SNC.
Globo pálido um dos núcleos dos gânglios da base.
Glossofaríngea, Respiração conhecido como respiração de rã. Exercício respiratório.
Godet, sinal de impressão provocada pela pressão do dedo sobre a pele infiltrada por um edema.
Gonalgia dor na articulação do joelho.
Gonartrite inflamação na articulação do joelho; artrite na articulação do joelho.
Gonartrose artrose da articulação do joelho.
Goniometria uso de instrumentos para medir a amplitude de movimento nas articulações corporais.
Gota doença caracterizada por episódios agudos de artrite, com a presença de cristais de urato de sódio no fluido sinovial, e depósitos de cristais de urato no interior das articulações ou junto a elas, ou em outros tecidos.
Granuloma eosinófilo lesão granulomatosa de etiologia desconhecida, em geral monofocal, num osso, com histiócitos, podendo também afetar tecidos moles, geralmente em crianças e adolescentes.
Grau de liberdade (de uma articulação) um eixo de rotação; uma articulação com três graus de liberdade permite rotação em tomo de três eixos diferentes.
Gravidade força de atração entre um objeto e um planeta (um objeto com grande massa). A força da gravidade causa uma aceleração de 9,81 m/s2 na Terra.
Grind test termo inglês para a manobra de diagnóstico clínico de uma lesão da articulação patelo-femoral do joelho.
Gritti, Amputação de amputação da coxa acima do joelho, com conservação da patela que se fixa sobre a superfície da secção do fémur. (Gritti Rocco, cirurgião de Milão, 1828-1920.)



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Dicionário Saúde e Fisioterapia

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G


Gaiola de Faraday recinto em malha metálica que protege seu espaço interno contra a influência de corpos eletrizados externos.
Galactan qualquer dos hidratos de carbono que dão lugar à galactose por hidrólise.
Galactoblasto corpúsculo de colostro; um dos numerosos corpos redondos, grandes, de colostro, que contêm gotas de gordura; acredita-se que sejam leucócitos modificados.
Galactocele tumor da mama que contém leite, causado pela obstrução de um ducto mamário.
Galactocrasia composição anormal do leite humano.
Galactosan um dos vários polissacarídeos originados da galactose e que é conhecido também com o nome de poligalactose.
Galactose açúcar simples branco, cristalino, que não é encontrado na sua forma pura nos alimentos; é formada no organismo por digestão da lactose (um tipo de açúcar encontrado no leite p.e.), convertendo-se depois em glicose como fonte de energia.

Galactozimase enzima que hidrolisa o amido e que está presente no leite.
Galamina, Trietiliodeto de composto utilizado como relaxante da musculatura esquelética.
Galectomia incisão cirúrgica da aponeurose epicrânica (gálea aponeurótica).
Galope ritmo de galope; frequência tríplice ou quadrúplice dos sons cardíacos que se assemelha ao galope de um cavalo quando o examinador faz a auscultação; deve-se à adição de um terceiro ou quarto som cardíaco.
Galvânico 1. relativo à corrente elétrica contínua produzida quimicamente; 2. que possui o efeito de um choque elétrico.
Galvanocautério cautério com um filamento aquecido com corrente contínua. Comumente conhecido como bisturi elétrico.
Galvanocontratilidade propriedade de um músculo se contrair sob a ação de uma corrente contínua.
Galvanofaradização aplicação simultânea de corrente elétrica contínua e alternada.
Galvanômetro instrumento destinado a medir a potência de uma corrente elétrica.
galvanômetro de corda de Einthoven — galvanômetro destinado a registrar os potenciais elétricos produzidos no coração; precursor do eletrocardiógrafo.
Gamagrafia registro gráfico da distribuição de um elemento químico radioativo específico dentro de um órgão.
Gametogénese produção de gametas (óvulos e espermatozóides).
Gangliectomia excisão cirúrgica de um gânglio (neurocirurgia).
Gânglio 1. agrupamento de corpos de células nervosas situadas fora do cérebro e da medula espinal; 2. tumefação cística semelhante a um tumor e que se localiza na bainha tendinosa ou na cápsula articular.
Gânglio estrelado gânglio do tronco simpático que contém dois componentes, o cervical inferior e o primeiro torácico, que frequentemente estão unidos.
Ganglioblasto célula embrionária a partir da qual se originam as células ganglionares.
Ganglioma o mesmo que ganglioneuroma, isto é, um tumor pequeno, encapsulado, benigno e de crescimento lento, formado por células ganglionares maduras e fibras nervosas.
Gânglios da base cinco núcleos intimamente relacionados (caudado, putâmen, globo pálido, núcleos subtalâmicos e substância negra) que recebem impulsos do córtex cerebral e enviam a maior parte das suas eferências, via tálamo, de volta para o córtex cerebral.
Gangrena morte do tecido somático em virtude de uma irrigação sanguínea inadequada; é uma forma de necrose combinada com putrefação. Existem várias formas clínicas de gangrenas, entre as quais gangrena diabética, gangrena húmida, gangrena fria, gangrena gasosa, etc.

Gargolismo trata-se da síndrome de Hurler, que é um transtorno metabólico hereditário caracterizado por deformidades esqueléticas, atraso mental e morte precoce.
Garrote ligação elástica que serve para exercer uma compressão externa, circular sobre um membro, a fim de parar ou prevenir uma hemorragia.
Gasometria medida dos gases sanguíneos; avaliação dos valores de pressão parcial de oxigénio, dióxido de carbono e pH.
Gastrectomia ressecção cirúrgica do estômago (gastrectomia total) ou de parte dele (gastrectomia parcial) ou de parte do estômago e do duodeno (gastroduodenectomia). Também chamada ressecção gástrica.
Gastrina uma das hormonas gastrointestinais libertadas durante a digestão. É excretada pela porção pilórica do estômago ao contato com o alimento; aumenta a secreção do ácido clorídrico e, em menor proporção, de pepsinogénio.
Gastroanastomose operação que consiste na sutura de uma parte do estômago com outra parte em outra extremidade, como o duodeno e o cárdia. Seria então anastomose esôfago-cárdica, anastomose gastroduodenal etc.
Gastroblenorréia secreção excessiva de muco gástrico.
Gastrocele hérnia de uma das paredes do estômago.
Gastrocnémio músculo da parte posterior da perna, que tem origem na face poplítea do fémur (parte superior do côndilo interno), gémeo superior externo e côndilo externo do osso da coxa; insere-se no calcâneo por meio do tendão de Aquiles, e sua ação é a de flexor plantar do pé.
Gastroduodenal relativo ao estômago e duodeno.
Gastroduodenostomia construção cirúrgica de uma abertura artificial entre o estômago e o duodeno.
Gastroenteroanastomose conexão cirúrgica entre o estômago e qualquer parte do intestino em continuação com ele.
Gastroenteropatia nome genérico para uma doença do aparelho digestivo.
Gastroestenose constrição do estômago. Também chamada estenose gástrica.
Gastrofrénico relativo ao estômago e ao diafragma.
Gastrogavagem alimentação mediante gastrostomia (abertura abdominal cirúrgica por onde se introduz uma sonda de borracha).
Gastrógrafo aparelho que registra os movimentos do estômago (geralmente peristálticos).
Gastrolitíase presença de um ou mais cálculos (gastrólitos) no estômago.
Gastrorrafia sutura do estômago (de um ferimento ou de uma lesão crónica).
Gástrula embrião na fase de desenvolvimento que se segue à blástula, na qual se produzem os movimentos de gastrulação.
Gastrulação formação da gástrula. Em Embriologia, processo pelo qual a terceira camada germinativa de células, chamada mesoderme, migra sobre o disco bilaminar fazendo-o trilaminar (ectoderme, mesoderme e endoderme). Ocorre durante a terceira semana de vida embrionária.



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Casa Maior - Um lar diferente...

Mesmo em idades avançadas, a decisão de se mudar para uma residência geriátrica nunca é fácil.
Existe uma dualidade de sentimentos, por um lado pretende-se o bem-estar do idoso, mas por outro lado muitos são os familiares que se culpabilizam, e não conseguem aceitar o processo de institucionalização. 
No entanto, para que este sentimento seja ultrapassado, ou pelo menos minimizado é fundamental que efetivamente a residência geriátrica seja credível, disponha de todos os recursos quer humanos (tais como enfermagem, fisioterapia, gerontologia e médica) quer materiais. Sobretudo é fundamental, que essa instituição transmita confiança ao residente e aos seus familiares (estes são parte integrante do processo de adaptação do sénior).


terça-feira, 23 de julho de 2013

Método McKenzie na avaliação e tratamento da articulação temporo-mandibular - estudo de caso clínico

O método McKenzie de Diagnóstico e terapia mecânica® (MDT) utiliza uma avaliação mecânica que consiste em monitorizar os sintomas e as respostas mecânicas a movimentos repetidos realizados até ao limite de amplitude de movimento articular (AM).
Os resultados dos movimentos repetidos são então usados para classificar os pacientes em uma das três síndromes mecânicas: desarranjo, disfunção ou síndrome postural.
Com base nesta classificação, diferentes exercícios e conceitos posturais são utilizados para reduzir o desarranjo, remodelar a disfunção ou corrigir cargas posturais adversas.
Quando utilizado na coluna vertebral por fisioterapeutas treinados, o MDT tem demonstrado muito boa a excelente confiabilidade no diagnóstico e no tratamento dos sintomas. Além disso, a centralização, que é um componente essencial da abordagem, e descreve a abolição da dor distal em resposta a movimentos repetidos, demonstrou validade prognóstica.
Relativamente à avaliação e tratamento das extremidades, um estudo de confiabilidade obteve valores de 83% para um grupo de 97 fisioterapeutas que avaliaram 25 estudos de caso com fichas de avaliação das extremidades, organizadas segundo o método McKenzie.
O objetivo deste estudo de caso foi descrever o regime de avaliação e tratamento aplicado, utilizando os princípios do MDT, a uma paciente com um problema não específico na articulação temporomandibular (ATM). Esta paciente foi classificada e tratada como tendo um desarranjo, de acordo com os princípios do MDT.

Apresentação do caso clínico

  • Paciente do sexo feminino, 30 anos, apresenta-se na clínica de fisioterapia com queixa de dor na ATM esquerda, que esteve presente durante quase sete anos. Às vezes, a dor irradia para o ouvido esquerdo.
  • Os sintomas começaram durante uma operação a um dente, em maio de 1997, durante a qual a sua boca foi mantida aberta por uma cunha dental durante cerca de 30 min. Durante esse tempo, sentiu uma forte dor no maxilar esquerdo.
  • Os sintomas continuaram durante aproximadamente 6 meses. Durante esse tempo, voltou duas vezes ao dentista que simplesmente a aconselhou a dar tempo para a dor passar.
  • Posteriormente, a dor nas articulações lentamente diminuiu, mas a mandíbula começou a bloquear várias vezes ao dia. Se abria a boca não podia fechá-la novamente, a menos que ajudasse a com as mãos. Mastigar os alimentos, bocejar e falar em voz alta aumentava a frequência dos bloqueios na articulação.
  • Em 1998, uma segunda dentista começou a terapia com um aparelho maxilar para uso noturno. Em 1999, teve 5 sessões de quiropraxia para a dor na mandíbula e, em seguida, em 2000, consultou um outro dentista. Nenhuma dessas intervenções ajudou, mas ao longo do tempo a rigidez e a dor pioraram, sentindo por vezes que o queixo estava a “sair do lugar”.
  • A paciente mudou os seus hábitos alimentares, preferindo os alimentos que não precisam ser mastigados ou cortar os alimentos em pequenos pedaços. Também descobriu que se desviasse a mandíbula para a esquerda conseguia abrir um pouco mais a boca, e que conseguia desbloquear a mandíbula com esse mesmo movimento.
  • Durante vários anos, apenas tentou viver com o problema, mas depois este começou a piorar, com a dor a irradiar para a orelha esquerda, tornando-se constante novamente, e aumentando em gravidade a partir de 1/10 para atingir por vezes 8/10.
  • Por causa do agravamento da situação, em 2004, o seu médico de família encaminhou-a para um cirurgião oral e maxilo-facial no hospital. No entanto, estava relutante em submeter-se a uma nova cirurgia, por causa da sua experiência anterior e, em vez disso, decidiu contactar um fisioterapeuta.

Avaliação clínica (1ª consulta)
  • Atualmente, a sua capacidade funcional estava extremamente limitada e tinha dor constante. O seu sono foi perturbado por causa das dores nas articulações e sofria de extrema rigidez matinal na mandíbula.
  • Um exame de triagem para despiste da coluna cervical como origem dos sintomas, que consistia em movimentos únicos e repetidos nos planos sagital e frontal, revelou nenhuma restrição de movimentos ou resposta sintomática ou mecânica.
  • No exame da ATM a paciente relatou uma dor em repouso na ATM esquerda de 2/10.
  • Abrindo a boca demonstrou uma perda moderada de movimento que era muito doloroso no final da AM. (O MDT utiliza medidas não específicas para a perda de movimento: leve, moderado e grande, que apesar de imprecisos são significativos para o avaliador e relevante no caso de pacientes individuais.)
  • Tanto fechar a boca como cerrar os dentes aumentaram a dor local na ATM esquerda. O desvio lateral esquerdo estava moderadamente limitado e doloroso em toda a AM. O desvio lateral direito não restava limitado, mas era doloroso durante todo o movimento e a paciente teve a sensação de que a mandíbula iria sair do lugar.
  • Ambos os desvios eram dolorosos, mas como o direito também causou a sensação de subluxação foi decidido explorar esse movimento com os movimentos repetidos. (A prática clínica tem demonstrado que o movimento provocador pode frequentemente ser o mais informativo em termos de diagnóstico.)
  • Um conjunto de 10-15 repetições aumentou os seus sintomas, e tornou os movimentos laterais ainda mais limitados, agravou também o sentimento de subluxação, até que ela mal podia repetir os movimentos.

Tratamento (1ª consulta)
  • Dada esta resposta negativa, o desvio lateral esquerdo foi o próximo movimento a ser explorado.
  • Os seus sintomas iniciais eram de dor 6/10, e, em seguida, a paciente foi convidada a realizar 10-15 repetições. Durante a repetição de desvio lateral esquerdo relatou que o movimento era cada vez mais fácil de fazer e menos doloroso. Após a conclusão de dois conjuntos de repetições, a dor permanecia apenas no final da AM, não relatando nenhuma dor em repouso.
  • Numa reavaliação rápida as AM tinham aumentado e eram muito menos dolorosas. No desvio lateral direito, o sentimento de subluxação desapareceu, mas a dor ainda estava presente.
  • As estratégias de auto-tratamento nas 24h seguintes foram 10-15 repetições de desvio lateral esquerdo a cada 2h, e tentar evitar fatores agravantes, como mastigar, falar alto ou bocejar. A paciente foi instruída para executar as repetições até ao limite de AM possível em cada repetição.

2ª Consulta
  • A paciente foi novamente no dia seguinte para confirmar o diagnóstico e aplicação da terapêutica mecânica. Ela relatou que havia realizado seus exercícios a cada 2 h, tendo demonstrado na consulta um desempenho preciso nos mesmos.
  • A dor ao acordar, dor ao comer e rigidez articular ainda estava presente na ATM esquerda, mas cerca de um quarto do que tinha sido.
  • Ela agora demonstrou perda movimento mínimo em todas as direções com a dor no final da AM, exceto no desvio lateral direito, onde o sentimento de subluxação ainda estava presente. Não havia dor em repouso.
  • Nesta consulta a paciente foi orientada para progredir na resistência aplicada através da aplicação de sobre-pressão no sentido do movimento, usando as mãos para apoiar a maxila esquerda, empurrando com a mão direita a mandíbula direita (como demonstrado)
  • Como resultado, a dor no final da AM aumentou na mandíbula esquerda, mas não piorou em resultado dos movimentos repetidos.
  • A paciente foi instruída a realizar este exercício 10-15 vezes a cada 2 horas e limitar mastigar alimentos.


3ª Consulta
  • A paciente foi mais uma vez no dia seguinte para garantir que a sobrepressão estava a ter o efeito desejado.
  • Ela relatou que tinha realizado o movimento de sobrepressão a cada 2 h, e demonstrou que tinha sido executado corretamente.
  • Na verdade relatou que, a cada repetição, tinha ficado mais fácil de fazer, que tinha dormido a noite toda sem acordar devido à dor e não tinha dor ao acordar pela manhã. Além disso, não tinha nenhuma dor ao comer o pequeno-almoço e almoço e nenhum sentimento de perda de movimento ou rigidez, como resultado de comer.
  • Na re-avaliação, a paciente demonstrou movimento completo e livre de dor em todas as direções, exceto desvio lateral direito, onde sentiu uma leve dor, mas nenhum sentimento de subluxação. Com base na re-avaliação, ela foi instruída a continuar com os exercícios de desvio lateral esquerdo com sobrepressão a cada 2 h por mais 24 h.


4ª Consulta
  • Uma semana depois, a paciente voltou sem queixas de dor. No exame, todos os movimentos activos estavam completos e sem dor. Não era mais possível reproduzir a sensação de subluxação associada ao desvio lateral direito.
  • A paciente recebeu alta com instruções para voltar se houvesse qualquer reaparecimento dos sintomas ou problemas.


Seguimento de longo prazo
  • No acompanhamento por telefone, um ano depois, a paciente relatou que havia permanecido livre de dor, sem limitações funcionais e que era capaz de mastigar alimentos livremente, cantar, mascar pastilha elástica, e dormir durante a noite.
  • Por acaso a paciente foi encontrada na rua, alguns anos depois. Ela relatou que não tinha tido nenhum retorno dos sintomas da ATM e conseguido um retorno completo da função, com capacidade para comer o que quisesse, bocejar, cerrar os dentes e cantar bem alto, sem medo de mais problemas.


Conclusão

Este estudo de caso detalha a história e avaliação de uma mulher que se apresentou com dor na ATM, não específica, tipicamente crónica. Durante o exame físico, o uso de movimentos repetidos, em linha com os princípios de tratamento de MDT foi capaz de reduzir e posteriormente eliminar os sintomas e restaurar uma amplitude completa de movimento, livre de dor. Os movimentos na chamada direcção de preferência reproduziram os seus sintomas e restabeleceram a sua funcionalidade. Este é um dos primeiros estudos que utiliza este método para avaliar e tratar um paciente com um problema crónico na ATM, mais e mais significativos estudos serão necessários para corroborar estas conclusões.


Krog C, May S. Derangement of the temporomandibular joint; a case study using Mechanical Diagnosis and Therapy. Man Ther. 2012 Oct;17(5):483-6.