quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Tratamento agudo de uma luxação da acromioclavicular – estudo de caso clínico

A composição da articulação acromioclavicular vai sofrendo alterações ao longo do tempo: durante a segunda década de vida, a cartilagem adquire uma matriz mais fibrocartilaginosa. Por volta dos 40 o disco fibrocartilaginoso intra-articular degenera tornando-o uma estrutura muito pouco funcional.

A discussão sobre as lesões nos ligamentos desta articulação remonta aos escritos de Hipócrates, onde este propôs que este tipo de lesões não resultaria em danos significativos. Em muitos aspectos, pouco mudou nestes 2400 anos.

Em 1990, Rockwood sugeriu um esquema de classificação primária, que define a gravidade da lesão em relação à estrutura específica afectada:
  • Rockwood Tipo I. ruptura parcial do ligamento acromioclavicular.
  • Rockwood Tipo II. rutura total do ligamento acromiclavicular e rutura parcial dos ligamentos coracoclaviculares.
  • Rockwood Tipo III. rutura total do ligamento acromiclavicular e dos ligamentos coracoclaviculares. Provoca deslocação dos segmentos (uma luxação), resultando numa alteração visível do ombro. Rockwood acrescentou variações específicas do tipo III, como IV, V e VI, dependendo do grau de deslocamento da clavícula.

O objectivo deste estudo de caso é descrever o tratamento agudo de um caso clássico de lesão tipo III.

Apresentação do caso clínico

  • Homem, 61 anos, mão direita dominante, estava a jogar ténis no momento da lesão.
  • Na queda o seu ombro direito suportou todo o peso do corpo contra o chão. Apesar de ter jogado mais dois pontos, acabou por ficar incapaz de elevar o ombro para realizar um movimento de servir.
  • O sujeito tinha sofrido uma lesão acromioclavicular de grau II quatro décadas antes.
  • Após sofrer a lesão actual o paciente era capaz de palpar o topo articular da clavícula livremente posicionado, e observava-se o sinal de cabide, consistente com uma lesão de grau III.
  • Aplicou gelo durante toda a noite e tentou dormir numa cadeira com o braço apoiado. Na manhã seguinte foi a um ortopedista. De imediato foi utilizado um sling para minimizar o desconforto na posição de repouso.
  • A sua apresentação era clássica de uma lesão AC comum, com perda óbvia de contorno normal e descida significativa do complexo glenumeral fazendo aparecer a clavícula significativamente elevada. No entanto o ortopedista falou na necessidade de uma RM e na possibilidade da cirurgia.
  • Não sendo a sua primeira opção, o sujeito consultou o fisioterapeuta, que falou na necessidade de um raio-X para confirmar o diagnóstico de lesão grau III.
  • Neste ponto, o médico assistente pediu e analisou estudo radiográfico, que não demonstrou qualquer lesão óssea, concordando com o diagnóstico de lesão Rockwood tipo III.
     



Para este tipo de lesão existem dois tipos de cirurgia (descritas pelas fotos)


E o tratamento conservador.
Durante os últimos 20 anos, foram efectuados numerosos estudos que compararam os resultados destas duas abordagens, não observando nenhuma diferença entre eles. Aliás, um dos estudos analisados indicava melhores resultados no curto prazo com o tratamento conservador.

Tratamento

Embora a deslocação fosse significativa e evidente (Figuras 3 e 5), e já houvesse artrite significativa da articulação, a literatura não suporta a reparação precoce como sendo melhor do que qualquer posterior reconstrução, se a instabilidade se mantiver a longo prazo após tratamento conservador.
  • Assim, o paciente começou a utilizar um sling de suporte e de fixação do antebraço para o tronco (Figura 10) e recebeu medicamentos analgésicos.
  • A indicação foi para usar o sling tanto quanto possível, mas poderia removê-lo para tomar banho, devendo apoiar o braço o mais possível, como mostrado na Figura 4. Deveria encontrar também a melhor posição para dormir.
  • Devia aplicar gelo, quanto mais vezes melhor, sendo o ideal períodos de 20 minutos de 2 em 2 horas.
  • Apesar da ligadura de tape ser muitas vezes utilizada, uma vez que os ligamentos coracoclaviculares foram completamente rompidos e a articulação já apresentava artrite, não se optou por esta solução, nem pelo colete rígido, evitando lesão da pele e pressão adicional sobre a articulação.
  • O paciente descobriu que dormir numa cadeira reclinada dava mais conforto ao braço, e ao terceiro dia após a lesão encontrou uma posição em que conseguia escrever com o braço bem apoiado.
  • Após uma semana de sling foram iniciados movimentos cuidadosos abaixo de 90º de elevação. O paciente começou a dormir na sua cama.
  • Começou a utilizar o sling mais solto e a fazer movimentos de controlo escapular todas as horas.
  • Durante as três semanas seguintes, deu-se uma lenta progressão das atividades. Tomar banho ainda era difícil, e a extensão e rotação interna combinados davam uma sensação de choque como resposta.
  • Na 3ª semana começou a conseguir dormir de lado e atingiu a amplitude de movimento completa. No entanto, permanecia a sensibilidade no final da elevação, bem como nos movimentos combinados de rotação interna e de extensão.
  • Foi capaz de balançar o taco de golfe sem desconforto durante a quinta semana.
  • Embora permanecesse obvia a deformação, apenas persistiam pequenas crepitações ou irritação. Esporadicamente o ombro ficava mais sensível, principalmente depois de várias horas a digitar ou de trabalho mais pesado da extremidade superior.


Conclusões

Embora o tratamento para lesões Rockwood Tipo III possa ser um tanto controverso, a literatura predominante suporta a gestão não-operatória. Se o paciente não estiver satisfeito com a sua função e/ou aparência após 3-6 meses, a reconstrução cirúrgica pode ser realizada com abordagens mais recentes focadas na restauração anatómica.

Neste paciente, a imobilização precoce para o conforto, atividades funcionais iniciais limitada a menos de 90º, seguidas de padrões funcionais na terceira semana significaram um rápido retorno à amplitude completa de movimento e atividade. O raio-X pode ser suficiente na maioria das lesões para delinear o grau ou tipo de lesão e o tratamento a seguir.



Terry Malone, ACUTE MANAGEMENT CONCEPTS OF THE ACROMIOCLAVICULAR JOINT: A CASE REPORT. Int J Sports Phys Ther. 2012 October; 7(5): 558–564.


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Reabilitação após artroscopia a uma osteoartrose glenoumeral – estudo de caso clínico

Na população geral, a incidência de artrose glenoumeral (AGU) é 5-17 %. O tratamento padrão para a AGU é a artroplastia total do ombro (ATO), mas para os pacientes mais jovens, o desgaste do material pode levar a um ombro disfuncional, pelo que apenas 10% das ATO são realizados em pacientes com 55 anos ou menos.

Devido a esta falta de sucesso da ATO em pacientes jovens, têm sido desenvolvidos processos de artroscopia mais complexos, como forma de retardar a ATO. Um dos procedimentos mais recentes engloba vários componentes:
  • A. desbridamento de tecido cicatricial e osteocondral,
  • B. Sinovectomia,
  • C. osteoplastia umeral inferior,
  • D. Libertação capsular,
  • E. descompressão do nervo axilar e
  • F. tenodese da cabeça longa do bicípite.

Este procedimento é usado para restaurar a estabilidade articular, diminuir a dor, melhorar a amplitude de movimento e retardar a necessidade de artroplastia em pacientes jovens e ativos.
Até o momento não existem estudos sobre a reabilitação após um procedimento deste género.

O objetivo principal deste estudo de caso é descrever o tratamento de uma mulher de meia-idade com AGU sujeita a este novo procedimento cirúrgico.

Apresentação de caso clínico

  • Mulher, 46 anos, com história de dor no ombro esquerdo há 5 anos, que não respondeu favoravelmente a injeções ou desbridamento artroscópico.
  • A paciente fazia esqui aquático e culturismo profissional. Queixava-se de rigidez e dor na face lateral e posterior do braço.
  • O exame revelou 10° de rotação externa ativa, 30° de abdução ativa, e 110º de flexão. Movimentos acessórios da glenoumeral revelaram crepitação e hipomobilidade significativa tanto em direcção inferior como posterior.
  • O exame sugeria AGU e, devido a uma tentativa prévio de reabilitação falhada e à gravidade da restrição articular, a paciente foi encaminhada para um ortopedista.
  • As radiografias mostraram a presença de osteoartrose grau IV incluindo um grande osteófito, a perda severa de espaço articular, e perda de congruência articular.
     

  • Depois da avaliação clínica e dos exames de imagem, concluiu-se que a melhor opção seria a intervenção cirúrgica descrita acima.

Tratamento pós cirurgia

A paciente foi atendida na fisioterapia um total de 44 vezes ao longo de oito semanas antes de voltar para casa para terminar a sua reabilitação.







Resultados




Conclusão

Ainda não foi determinado o tratamento ideal para a artrose glenoumeral em pacientes jovens e de meia-idade. O fisioterapeuta deve ser capaz de avaliar o paciente e reconhecer quando é apropriado encaminhar para ortopedia.

Através da realização de um exame físico e da avaliação de imagens radiográficas, a necessidade de cirurgia pode ser determinada. Em pacientes jovens e de meia-idade com AGU, o procedimento cirúrgico descrito neste estudo pode ser um método eficaz para tratar a condição do paciente, pois elimina os blocos ósseos e aborda geradores de dor comuns na glenoumeral.
A reabilitação intensiva enfatiza as mobilizações articulares logo no pós-operatório para evitar aderências capsulares, preservar ou restituir a mobilidade capsular, e promover o alongamento plástico dos tecidos moles encurtados.



Hagen ND, Olson T, Millett P. Comprehensive post-arthroscopic management of a middle-aged adult with glenohumeral osteoarthritis: a case report. Int J Sports Phys Ther. 2013 Feb;8(1):54-61.

As Metamorfoses do Espírito. Sobre o mal, a psicologia da filosofia e o Super-Homem

Recentemente tive o prazer de contactar com o colega Fisioterapeuta Luís Coelho, autor de vários livros, publicados e à venda em livrarias como a fnac e a Bertrand. 
A escrita do Luís é sem dúvida especial, e deve ser apreciada com a abertura de espírito com que se observa uma obra de arte, sempre preparados para o momento em que ela nos vai chocar, alegrar, envolver num abraço ou despertar-nos as emoções mais singulares. Ficam alguns fragmentos:

«O livre-arbítrio é a determinação da ilusão da liberdade de escolha.»

«Não pratiquemos a Virtude com vista ao Caminho, pratiquemos o Caminho com vista à Virtude»

É o tom de «As Metamorfoses do Espírito. Sobre o mal, a psicologia da filosofia e o Super-Homem», que chegou às livrarias Bertrand de todo o país. Obra que apresenta o lado mais luciferino da Espiritualidade.

Poderão ver mais no seu blogue pessoal: http://reeducacaopostural.blogspot.pt/

domingo, 10 de novembro de 2013

Reabilitação de uma ruptura distal do bicípite cirurgicamente reparada – estudo de caso clínico

A ruptura completa do tendão distal do bicípite braquial é relativamente rara (cerca de 3%. 96% são na cabeça longa e 1% na cabeça curta) e há pouca informação para orientar os fisioterapeutas na reabilitação após a lesão e reparação cirúrgica subsequente.

O mecanismo mais comum de lesão é uma única carga inesperada colocada sobre a articulação do cotovelo. 

Sente-se um “pac” que é audível seguido pela formação de contorno anormal da face anterior do braço. 

A perda de função é substancial, havendo perda total de torque produzido pelo bicípite braquial e a recuperação pode ser lenta.



Os dois tipos de procedimentos cirúrgicos usados são a técnica de incisão única e a técnica de incisão dupla (Figuras 2 e 3).
 

A reabilitação pós-cirúrgica normalmente segue duas fases:
  1. Imobilização (primeiras 6 semanas de pós-operatório)
  2. Fortalecimento/alongamento (dos músculos atrofiados e eventual regresso a actividades funcionais)

A descrição do protocolo de reabilitação utilizado neste estudo de caso pode ajudar a guiar os fisioterapeutas na reabilitação de um paciente com uma ruptura de tendão distal do bicípite braquial que foi reparado cirurgicamente.

Apresentação de caso clínico


  • Homem, de 38 anos, que fazia treinos de resistência 4-5x/semana.
  • Foi submetido a reparação cirúrgica do tendão distal do bicípite direito após um acidente de bungee jumping.
  • A cirurgia foi realizada 15 dias após a lesão inicial usando uma técnica de incisão única.
  • O paciente apresentou-se na fisioterapia com o cotovelo a 90º, numa cinta de apoio, e com indicação do médico para não realizar flexão ativa do cotovelo ou supinação de antebraço. 
  • O exame físico da região lesada revelou uma deformidade visível e palpável do ventre do músculo bicípite braquial, principalmente na região distal, com uma pequena cicatriz na fossa antecubital direita, onde o tendão do bicípite tinha sido reparado cirurgicamente, sem quaisquer sinais de infecção.
  • A amplitude de movimento ativa foi avaliada bilateralmente, revelando limitações significativas quando comparado com o lado contralateral, com dor de 3/10 nos finais de amplitude de movimento.
  • Não foram realizados testes de força muscular na primeira avaliação por indicação médica.


Tratamento


Foram feitas pequenas adaptações ao protocolo inicialmente sugerido pelo médico assistente:
Descritas no anexo:


Resultados


Na oitava semana, o paciente relatou que tinha pleno funcionamento do braço e não tinha défices em nenhuma das atividades da vida diária (AVD).


Conclusão


Neste estudo de caso, a taxa de evolução na amplitude de movimento do cotovelo foi mais rápida do que o que se estava à espera pelo protocolo estabelecido, o que levou os autores a realizar exercícios que permitiram avançar para o fortalecimento da musculatura da parte superior das costas e cintura escapular, limitando qualquer exercício que envolvesse o bicípite.

Embora o plano global de tratamento não tenha diferido significativamente do protocolo médico solicitado, é opinião dos autores que a amplitude de movimento completa pode ser alcançada antes da 6ª semana de reabilitação, e, portanto, iniciada uma lenta transição para fortalecimento do bicípite braquial em segurança.


Horschig A, Sayers SP, Lafontaine T, Scheussler S. Rehabilitation of a surgically repaired rupture of the distal biceps tendon in an active middle aged male: a case report. Int J Sports Phys Ther. 2012 Dec;7(6):663-71.


sábado, 9 de novembro de 2013

Dicionário Saúde e Fisioterapia

ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ


N

Nanismo condição caracterizada por indivíduos por estatura muito baixa, devido em geral a deficiência ou defeito da somatotropina ou de receptores celulares para essa hormona.
Natalidade taxa de nascimentos; frequência de nascimentos no seio de uma população, geralmente expressa pelo número total de nascimentos por 1.000 ou 10.000 habitantes.
Naturopatia terapia alternativa, não-convencional, reconhecida pela OMS como um sistema de tratamento que confia exclusivamente em remédios naturais, exercícios, massagens e hidroterapia para tratar as doenças.
Náusea desejo de vomitar seguido ou não de vómito.
Nebulina proteína do citoesqueleto que permite a actina manter a sua estrutura.
Nebulização aerossol. Forma terapêutica de aplicação de medicamentos necessários à manutenção do alinhamento.
Necrose avascular necrose de parte de um osso, secundária à isquemia; mais comumente observada na cabeça femoral ou umeral.


Nefroblastoma tumor de células jovens localizado nos rins, também conhecido como tumor de Wilms. É uma neoplasia maligna que aparece quase sempre em crianças pequenas e é constituída de elementos embrionários.
Negatoscópio aparelho utilizado no diagnóstico por imagem que consiste numa caixa, de diferentes tamanhos, fixa ou móvel, retangular, dotada de luz de intensidade adequada para ressaltar os contrastes de claro-escuro das radiografias e para ler e interpretar as estruturas registradas numa chapa radiográfica.
Negligência crime culposo por omissão, descuido ou incompetência na execução de qualquer ato.
Negligência espacial unilateral incapacidade em registrar e integrar estímulos e percepções de um dos lados do corpo e do ambiente. Como resultado, o paciente ignora estímulos ocorrentes naquele lado do espaço pessoal.
Neo- elemento de composição que significa novo ou recente.
Neoartrose articulação artificial criada artificialmente.
Neologismos palavras criadas que não possuem um significado; observados tipicamente no paciente com afasia de Wernicke.
Neonatal relativo ao recém-nascido ou ao período neonatal, que se estende até o 28º dia após o nas­cimento; mas, segundo alguns autores, até a sexta semana de vida.
Neonato o mesmo que recém-nascido.
Nervo agrupamento de fibras nervosas, fora do SNC, que se apresenta como um cordão de comprimento variável, esbranquiçado (devido à coloração da mielina) e envolvido por uma camada de tecido fibroso: o perinervo.
Neuralgia, Nevralgia dor aguda ou intensa ao longo de um nervo ou das suas ramificações. Neurectomia excisão parcial ou total, ou ressecção de um nervo; usada na redução da espasticidade grave.
Neurite inflamação de um nervo.
Neuroblastoma tumor muito maligno que se origina geralmente na medula supra-renal; é o tumor maligno mais comum da infância; também conhecido como simpatoblastoma e simpatogonioma.
Neuroglia um dos dois tipos de células do sistema nervoso. A neuroglia proporciona suporte estrutural, metabólico e de proteção aos neurónios.
Neurológico relativo ao sistema nervoso, inclusive a encéfalo, medula, pares de nervos cranianos e nervos periféricos.
Neuroma (de amputação) coleção de células nervosas que se desenvolve após a transecção de um nervo.
Neuroma de Morton neuroma do nervo digital plantar causado por traumatismo ao nervo, na sua passagem entre as cabeças metatarsais.
Neuromecânica a base neurofisiológica e biomecânica de um elemento.


Neuromodulação modulação da atividade do sistema nervoso, para a redução ou eliminação da transmissão da dor.
Neurónio um dos dois tipos de células do sistema nervoso; capaz de gerar e transmitir um sinal elétrico.
Neuropatia estado anormal, em geral degenerativo, que afeta o sistema nervoso.
Neurotransmissor agente químico liberado em pequenas quantidades dos terminais das células nervosas em resposta à chegada de um potencial de ação.
Neurotrofismo influência sustentada que um elemento biológico exerce sobre o outro.
Nictação ato involuntário de piscar os olhos.
Nictalopia diminuição da capacidade visual em condições de pouca iluminação.
Nictúria excessiva micção durante a noite.
Nistagmo movimento rítmico e oscilatório dos olhos devido a uma deficiência do cerebelo sobre o sinergismo e tónus dos músculos extra-oculares, tornando difícil uma fixação precisa.
Níveis de funcionamento cognitivo, Escala cognitiva do Rancho Los Amigos escala de pontuação que categoriza as respostas neurocomportamentais ao longo de um contínuo de recuperação neurológica e de crescente integridade.
Nocicepção interpretação consciente ou inconsciente de qualquer processo doloroso.
Nociceptores terminações nervosas cutâneas sensíveis a estímulos agressivos e dolorosos, que podem ser mecânicos, como uma picada ou esmagamento, causando dor aguda; ou termomecânicos, como temperaturas acima de 42°C, ações traumáticas graves ou substâncias químicas cáusticas, que produzem dor.
Nódulo pequeno aglomerado de células, perceptíveis à palpação e de forma nodular e circunscrita. Nódulo é diminutivo de nodo.
Nódulo de Bouchard formação de osteófitos em torno das articulações interfalângicas proximais, típica de doença articular degenerativa; similares aos nódulos de Heberden.
Nodos de Heberden crescimentos ósseos da articulação interfalângica distal; característicos da doença articular degenerativa primária.
Nomenclatura conjunto de termos peculiares a uma ciência, técnica ou arte.
Normal em boa saúde; indicativo ou predictivo de boa saúde.
Nosologia ramo da medicina que se ocupa da definição e classificação sistemática das doenças.
Núcleo caudado um dos núcleos dos gânglios da base.
Núcleo denteado um dos núcleos subcorticais profundos do cerebelo.
Núcleo fastigial um dos núcleos subcorticais profundos do cerebelo.
Núcleo interpósito um dos núcleos subcorticais profundos do cerebelo.
Núcleo putâmen um dos núcleos dos gânglios da base.
Núcleo rubro agrupamento de células localizadas no mesencéfalo que dá origem ao trato rubrospinal.
Núcleo vestibular lateral localizado entre a ponte e a medula oblonga; dá origem ao trato vestibuloespinal.
Núcleos subtalâmicos alguns dos núcleos dos gânglios da base.
Nuligesta diz-se de mulher que nunca esteve grávida.
Nulípara que nunca pariu.
Nutrição ato ou processo de nutrir-se ou de ser nutrido.
Nutriente substância contida nos alimentos e dotada de efetivo valor energético, plástico ou biorregulador.



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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Aprender a ouvir as preocupações dos pais: 3 casos de crianças com atrasos de desenvolvimento

Investigações anteriores já demonstraram que os pais (ou outros cuidadores primários) são bastante precisos na identificação de alterações de desenvolvimento nas suas próprias crianças e que suas preocupações iniciais são muitas vezes corroboradas por subsequente avaliação profissional.

Este conhecimento tem incentivado o uso da avaliação dos pais como uma estratégia eficaz e centrada na família para a triagem do desenvolvimento das crianças, de modo que possam ser feitas as referências apropriadas para posterior avaliação e intervenção pela consulta de desenvolvimento.

O Harris Infant Neuromotor Test (HINT) é uma ferramenta de triagem projetada para discriminar o desenvolvimento típico dos atípicos em bebés entre os 2,5 e os 12,5 meses. O HINT é composto por três partes: 
  1. informações básicas sobre a gravidez e o parto 
  2. 5 questões com a opinião dos pais sobre o movimento/interacção da criança
  3. o examinador administra 21 itens que, quando somados, determinam a pontuação total HINT.

Os itens na parte III envolvem principalmente a avaliação observacional da capacidade da criança se mover em várias posições, amplitude de movimento passivo, tónus muscular, observação do movimento anti-gravidade, postura das mãos e dos pés, frequência e variedade de movimentos, comportamento geral da criança e cooperação durante o teste, a presença de comportamentos estereotipados e medição da circunferência da cabeça.

Este estudo de caso tem por objectivo avaliar a validade do HINT na identificação de atrasos de desenvolvimento em três casos de crianças encaminhadas para o autor pelos pais, por preocupações com o seu desenvolvimento. O autor comparou ainda os resultados da terceira parte do HINT com os resultados na Bayley-II Motor Scale, para uma valiação da avaliação do desenvolvimento mais abrangente nestes três casos.

Apresentação dos casos clínicos


Todas as três crianças eram meninas, nascidas a termo, com peso e comprimento adequado para a idade gestacional, embora a criança 2 estivesse no limite do pequeno para a idade gestacional. Não houve dificuldades nas gestações ou partos.

Cada criança foi encaminhada para o autor para avaliação do desenvolvimento por expressas preocupações dos pais sobre possíveis atrasos motores nos seus filhos, como moleza ou baixo tónus muscular e/ou possível paralisia cerebral.


Testes utilizados
Em relação ao HINT, quanto maior a pontuação total, maior é o atraso em habilidades motoras. Com base nos dados normativos, a criança é considerada desenvolvida de forma apropriada se o resultado está dentro da média ±1 DP para a sua faixa etária. Bebés com mais que 1 DP acima da média são encaminhados para uma avaliação mais abrangente, em que se utilize, por exemplo, a Bayley-II Motor Scale, que tem um score máximo de 100, e em que as crianças com 1 a 2 DP baixo da média são consideradas com ligeiro atraso de desenvolvimento e as com mais de 2 DP são consideradas com atraso significativo e devem ser encaminhadas para serviços de intervenção precoce.

Ambos os testes foram administrados por um fisioterapeuta especializado em pediatria, com mais de 30 anos de experiência clínica.

Como o HINT é um teste de rastreio, foi administrado primeiro, seguido pela Bayley-II Motor Scale. Cada mãe estava presente para a avaliação e completou as cinco perguntas do HINT que lhe eram destinadas antes da parte motora do teste ter sido aplicada pelo fisioterapeuta.

Resultados


Criança 1: 9,5 meses, 1ª filha, foi acompanhada pela mãe e pelo pai. Ambos os pais e o médico de família tinham observado sinais de preocupação quando a bebé tinha 6-7 meses de idade, ou seja, que ela era pequena e ainda não se sentava de forma independente.

Aos 7-8 meses, a mãe descrevia a bebé como "mole", não se querendo sentar ou suportar o seu peso em pé apoiada. Uma recente avaliação por um pediatra incluiu referência para testes de níveis de creatina fosfoquinase, função renal e hepática e exames de ultra-som abdominal e craniano. De acordo com os pais, todos os resultados dos testes estavam dentro dos limites normais.

No questionário HINT para os pais, estes diferiram um pouco nas suas respostas. Na questão 2 o pai considerou que os movimentos da criança eram "ótimos", a mãe respondeu que "estava um pouco preocupada". Na questão 3, o pai sentiu que a bebé estava "um pouco atrasada", enquanto a mãe respondeu "muito atrasada", no que diz respeito à questão 4, o pai não tinha outras preocupações, mas a mãe expressou preocupações sobre a capacidade limitada da criança em se mover contra gravidade e não gostar de ser colocada em decúbito ventral. Na questão 5, a mãe relatou que o médico da família estava preocupado por a bebé ainda não se sentar ou “usar as pernas”.

Qualitativamente, os resultados do HINT e do Bayley-II Motor Scale apresentaram maiores atrasos do que os expressos pelo pai (um pouco atrasado), mais comparáveis com aqueles expressos pela mãe (muito atrasada).

Criança 2: 9 meses e 21 dias, a mãe havia expressado preocupações de que a criança era "mole”, com atraso a alcançar metas motoras. Havia sido encaminhada pelo médico de família a um pediatra que ordenou um eletroencefalograma, tomografia computadorizada, e vários exames de sangue e urina. De acordo com a mãe da criança, todos os resultados estavam dentro dos limites normais.

Na questão 1 do HINT, a mãe descreveu a bebé como “mole e preguiçosa, um pouco solta/um pouco pressa", por exemplo, que a criança arqueava as costas para a frente quando sentada. Na questão 2 estava "tudo bem, mas um pouco preocupada" e à questão 3 "ligeiramente atrasada/um pouco para trás". Na questão 5, relatou que sua própria mãe e irmã, o seu melhor amigo e um terapeuta ocupacional pediátrico também estavam preocupados com a bebé.

Qualitativamente, os resultados do HINT e do Bayley-II Motor Scale sugerem um maior grau de atraso do que foi relatado pela mãe na questão 3 da HINT, ou seja, um pouco atrasada.

Criança 3: 13 meses, 1ª filha. Embora fosse tecnicamente mais velha do que a faixa etária coberta pela HINT, ainda era possível calcular a idade neuromotora equivalente e comparar a sua pontuação HINT total com os dados normativos de crianças com 12 meses de idade. A mãe havia expressado preocupações de que a sua filha parecia ter "um tónus baixo", e que ambos os pais estavam preocupados que a bebé ainda não gatinhava ou ficava em pé independentemente.

Na questão 1 do HINT a mãe descreveu a sua filha como "mole e preguiçosa", na questão 2, revelou que estava "um pouco preocupada" e sentiu que sua filha estava "um pouco atrasada" (pergunta 3). Na questão 4 a mãe comentou que estava preocupada por a bebé ainda não se agarrar à mobília para se manter de pé. Na questão 5, o marido também estava "um pouco preocupado".

Qualitativamente, os resultados do HINT e do Bayley-II Motor Scale sugerem atrasos motores significativos, enquanto a mãe expressou, na questão 2, que estava apenas "um pouco preocupada" e pensou que a sua filha estava apenas "um pouco atrasada" na questão 3.


Conclusão



Os fisioterapeutas especializados em pediatria devem ouvir atentamente as preocupações dos pais sobre os seus filhos e tomar medidas para fornecer avaliação do desenvolvimento motor e, quando for o caso, encaminhar as crianças para posterior avaliação mais abrangente e/ou serviços de intervenção precoce.



Harris SR. Listening to parents' concerns: three case examples of infants with developmental motor delays. Pediatr Phys Ther. 2009 Fall;21(3):269-74.