O bruxismo define-se como um anormal cerramento e/ou ranger
dos dentes, seja durante a vigília seja durante o sono. Pensa-se que o bruxismo
possa causar os sintomas da disfunção temporomandibular (DTM) ou que as duas
condições clínicas podem co-existir, sendo que a ligação exata entre as duas ainda
não é clara.
Uma série de estudos tem mostrado uma forte relação entre
bruxismo e DTM. Um desses estudos observou 212 pacientes com diagnóstico de DTM e o bruxismo
foi encontrado em 87,5% dos pacientes com dor miofascial com deslocamento do
disco articular e em 68,9% dos pacientes com dor miofascial sem deslocamento do
disco. Uma revisão de 46 artigos não mostrou, no entanto, um nexo de
causalidade entre os dois. A relação entre ambas é ainda complexa e necessita de mais
investigação.
O que provoca o bruxismo?
Pensa-se que o bruxismo durante a vigília está relacionado com fatores
psicossociais, como stress ansiedade e depressão. Hábitos como roer as unhas,
mascar lápis e morder na língua ou bochecha também são considerados formas de
bruxismo acordado.
Quanto ao bruxismo durante o sono já se pensou que também
estava relacionado com esses mesmos fatores psicossociais, no entanto, a investigação
atual não suporta isso. Pensa-se agora que os fatores centrais, como micro-despertares
durante o ciclo do sono, são a causa mais provável do bruxismo no sono, também
conhecido como parafunção ou parassonia.
Durante o ciclo normal do sono temos reativações do cérebro
que nos tornam mais conscientes do ambiente à nossa volta, sem estarmos
realmente acordados. Essas reativações são conhecidas como micro-despertares e servem
para que o nosso corpo possa reajustar a temperatura, a frequência cardíaca e
respiratória e para nos acordar, se qualquer ameaça for percebida. Estes
despertares geralmente ocorrem uma ou duas vezes por minuto e duram apenas
alguns segundos.
Um estudo descobriu, através de electroencefalograma, que as
pessoas com bruxismo durante o sono tinham um número significativamente maior
de micro-despertares do sono do que os indivíduos saudáveis. Estes despertares
extras foram mais comuns durante o sono não-REM e a maioria dos episódios de
bruxismo também ocorreu durante o sono não-REM. Este estudo também descobriu
que a frequência cardíaca aumentou durante os episódios de bruxismo.
Acredita-se
que o aumento da frequência cardíaca causada por um número excessivo de
micro-despertares provoca aumento da atividade neural, que por sua vez estimula
os neurónios motores, resultando em contração rítmica dos músculos da
mastigação e bruxismo. Curiosamente, verificou-se que cerca de 60% dos indivíduos
saudáveis também têm contracção rítmica dos músculos da mastigação, mas sem
contacto dos dentes.
Estima-se que até 20% da população sofre de bruxismo, e
destes até 20% têm sintomas de DTM.
A maioria dos episódios de bruxismo ocorre em decúbito dorsal
e são mais comuns em pessoas com apneia do sono, distúrbios do sono e sonâmbulos.
O bruxismo torna-se menos comum com o avançar da idade.
Sinais e sintomas
Muitos pacientes não se apercebem que apertam ou rangem os
dentes, especialmente se tiverem bruxismo do sono. Os seguintes sintomas podem
ser indicativos de bruxismo:
- Queixa do parceiro sobre o barulho de ranger de dentes.
- Acordar com os dentes cerrados.
- Acordar com sensibilidade e restrição nos músculos da mastigação.
- Acordar com sensibilidade nos dentes ou nas gengivas.
- Entalhes com a marca dos dentes na parte interna das bochechas ou as bordas da língua.
- A hipertrofia dos músculos masséter.
- Desgaste dentário excessivo.
- Estalido ou bloqueio, dor na ATM, dor de cabeça.
- Ressonar pode ser um indicador de bruxismo durante o sono.
Tratamento
Educação do Paciente - Se o bruxismo do paciente ocorre
durante o dia, então é necessário educação e aconselhamento para ajudar a mudar
hábitos como roer unhas, mascar lápis e cerrar a mandíbula. Ajudar o paciente a
identificar e tratar os factores causadores de stresse na sua vida diária pode
ser útil. Em alguns casos, os pacientes podem beneficiar da terapia de
relaxamento, e exercícios respiração. Encaminhamento para um psicólogo pode
ajudar alguns pacientes.
Higiene do Sono - Educação sobre a boa higiene do sono
também pode ser útil. Os pacientes devem ser aconselhados a evitar grandes
refeições, álcool e cafeína dentro de três horas antes de dormir e melhorar o
seu ambiente de sono, garantindo baixa ou nenhuma luz, o mínimo de ruído, sem
animais ou crianças no quarto e tentar ter um horário mantido de deitar e
acordar.
Estudos do sono - Se se suspeita de um distúrbio do sono,
como a apneia do sono ou outros distúrbios do sono, o paciente pode se
beneficiar de um encaminhamento para uma clínica do sono para estudos mais pormenorizados.
Dificuldades respiratórias - Se o paciente sofre de
quaisquer distúrbios respiratórios, incluindo alergias, é necessário consultar
o seu médico de família para investigação e tratamento.
Placas oclusais - Há evidências para apoiar o uso de placas
oclusais durante a noite para pacientes com bruxismo do sono. O objectivo
destes splints é manter os dentes levemente separados, mesmo quando o paciente
aperta ou range. Isso reduz a compressão da articulação temporomandibular (ATM)
e também pode reduzir os danos a longo prazo para os dentes. As investigações
demonstram também uma redução nos níveis de atividade do masséter e temporal e redução
da dor após o uso de uma placa oclusal à noite.
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