A incontinência urinária é definida pela Sociedade Internacional de
Continência como "uma condição na qual a perda involuntária de urina é um
problema social ou de higiene que é objectivamente demonstrável".
É um problema muito comum estima-se que afecte mais de 50 milhões de
pessoas no mundo desenvolvido, sendo mais frequente nas mulheres.
A micção requer a coordenação de diversos processos fisiológicos. Os
rins produzem a urina, que está continuamente a passar para a bexiga, através
dos ureteres (os tubos dos rins para a bexiga). A quantidade de urina produzida
irá depender da quantidade de líquidos que ingere, do que come e da
transpiração que produziu.
A bexiga é num “saco”, localizado por trás da sínfise púbica, com
paredes revestidas por músculo e preparado para armazenar a urina, daí a sua
capacidade para se expandir quando se enche. A urina é retida na bexiga devido
à acção de uma válvula de saída de urina (uretra), que está normalmente fechada,
e aos músculos do pavimento pélvico, logo abaixo da bexiga e que rodeiam a
uretra.
Mensagens nervosas complexas são enviadas entre o cérebro, a bexiga e
os músculos do pavimento pélvico. Estas permitem-lhe perceber quando a sua
bexiga está cheia, e controlam a contracção/relaxamento dos músculos e
esfíncteres. Idealmente, quando vai ao WC, os músculos das paredes da bexiga
devem contrair enquanto a uretra e os músculos do pavimento pélvico se relaxam.
A incontinência urinária resulta de uma desregulação em uma destas
etapas e poderá ser de diferentes tipos:
Incontinência de stress: é o tipo mais comum. Ocorre quando a pressão
na bexiga se torna superior à capacidade de retenção da uretra. Isto
normalmente ocorre porque os músculos do pavimento pélvico estão enfraquecidos.
Terá mais perdas em actividades como rir, tossir ou durante o exercício físico.
Nessas situações há uma súbita pressão extra (“stress”) no interior do abdómen
e na bexiga. O motivo mais comum para os músculos do pavimento pélvico perderem
a sua função é o parto. A incontinência de stress é comum em mulheres que
tiveram vários filhos. Também é mais comum com o aumento da idade e com a
obesidade.
Incontinência de urgência (bexiga instável ou hiperactiva): é a segunda
causa mais comum. Acontece quando começa a sentir frequentemente uma
necessidade urgente de urinar. Por vezes ocorrem perdas antes de ter tempo de
chagar ao WC. Na maioria dos casos, a causa deste tipo de incontinência urinária
não é conhecida. Por alguma razão o músculo da bexiga envia mensagens alteradas
ao cérebro, e poderá ter a sensação de bexiga mais cheia do que realmente está.
Por vezes este tipo de incontinência pode ocorrer devido a problemas com o
cérebro ou os nervos, como por exemplo, após um acidente vascular cerebral, em
algumas pessoas com doença de Parkinson, em algumas pessoas com esclerose múltipla ou em algumas pessoas com danos na medula espinhal ou outras doenças
cerebrais.
A incontinência mista: Algumas pessoas têm uma combinação de incontinência
de stress e incontinência de urgência.
Outras causas menos comuns de incontinência urinária incluem:
Incontinência por extravasamento: Isto acontece quando há uma obstrução
física ao fluxo urinário normal. Nestes casos uma quantidade de urina permanece
constantemente na bexiga fazendo com que a pressão se acumule acima do local da
obstrução. O mecanismo de esvaziamento normal da bexiga torna-se deficiente e a
urina pode vazar a qualquer deslocamento ou alívio do bloqueio. A dilatação da
próstata nos homens é a causa mais comum deste tipo de incontinência. O
tratamento pode estar na remoção da próstata (prostatectomia).
Enurese: Perdas de urina nocturnas, ocorre em muitas crianças, no
entanto alguns adultos também são afectados.
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Diagnóstico
As
pessoas tendem frequentemente a conviver com a incontinência sem procurar ajuda
profissional, porque se sentem receosas ou têm vergonha de falar do problema
com o seu médico, ou porque pensam incorrectamente que a incontinência é uma
consequência normal do envelhecimento. E, contudo, muitos casos de
incontinência podem ser curados ou controlados, especialmente quando o
tratamento se inicia imediatamente.
A
incontinência de stress diagnostica-se por meio da história clínica do
problema, examinando a vagina nas mulheres e observando a perda de urina ao
tossir ou fazer um esforço. Um exame ginecológico também ajuda a determinar se
o revestimento da uretra ou da vagina se adelgaçou devido à falta de
estrogénios.
Em
todos os casos o paciente deve ser interrogado sobre os antecedentes do
problema, sendo realizado um exame clínico de seguida. Pode fazer-se uma
análise à urina para afastar uma possível infecção. A quantidade de urina que
fica na bexiga depois de urinar (urina residual) é muitas vezes medida através
de uma ecografia ou de uma algaliação urinária. Um grande volume de urina
residual indica uma obstrução ou um problema dos nervos ou dos músculos da
bexiga. Por vezes, também pode ser necessário realizar exames especiais durante
a micção (avaliação urodinâmica).
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Tratamento
O
tratamento óptimo depende da análise minuciosa do problema de forma
individualizada e varia segundo a natureza específica desse problema.
No
entanto, muitas vezes o tratamento é simples e exige apenas que se tomem
medidas para mudar o comportamento. Muitas pessoas podem recuperar o controlo
da bexiga mediante técnicas, como:
- Urinar com intervalos regulares (cada duas ou três horas), para manter a bexiga relativamente vazia.
- Pode ser útil evitar os irritantes da bexiga, como as bebidas que contêm cafeína
- Beber quantidades suficientes de líquidos (de seis a oito copos por dia) para impedir que a urina se concentre em demasia (isso poderá irritar a bexiga).
- A ingestão de medicamentos que afectam o funcionamento da bexiga de modo adverso muitas vezes pode ser suspensa.
Estas
alterações deverão ser acompanhadas por tratamentos específicos para cada tipo
de incontinência:
Incontinência de stress:
Exercícios
que fortalecem a musculatura do pavimento pélvico (exercícios de Kegel, com
pesos e electroestimulação com biofeedback). A auto-aprendizagem destas
técnicas de contracção muscular não é fácil, pelo que se utilizam com
frequência mecanismos de apoio. Um fisioterapeuta pode ensinar estes
exercícios. Os exercícios implicam a repetida contracção dos músculos, várias
vezes por dia, para desenvolver resistência e aprender a usa-los de modo
apropriado, nas situações que provocam incontinência, como ao tossir.
Aplicação
de um creme que contenha estrogénios na vagina ou tomar comprimidos destas
hormonas. Os emplastros cutâneos com estrogénios não foram estudados para o
tratamento da incontinência.
Outros
medicamentos que ajudam a controlar o esfíncter, como a fenilpropanolamina ou a
pseudofedrina, devem ser utilizados juntamente com os estrogénios.
Os
casos mais graves, que não respondem aos tratamentos conservadores, podem ser
corrigidos por meio de cirurgia utilizando qualquer dos diferentes
procedimentos que elevam a bexiga e reforçam o canal de passagem da urina. Em
alguns casos é eficaz uma injecção de colagénio à volta da uretra.
Incontinência de urgência:
Urinar
frequentemente com intervalos regulares.
Os
métodos de treino da bexiga, tais como exercícios musculares, podem ser muito
úteis.
Os
medicamentos que relaxam a bexiga, como a propantelina, a imipramina, a
hiosciamina, a oxibutinina e a diciclomina, podem ser úteis. Embora muitos dos
medicamentos disponíveis possam ser muito úteis, cada um deles actua de um modo
um pouco diferente e podem ter efeitos adversos.
Incontinência por extravasamento:
É necessária em geral a cirurgia para remoção da próstata inteira
ou uma parte dela.
O medicamento finasteride pode muitas vezes reduzir o tamanho da
próstata ou interromper o seu crescimento, evitando assim a cirurgia ou pelo
menos adiando-a.
Os medicamentos que relaxam o esfíncter, como a terazosina, também
costumam ser úteis.
Quando a causa é uma fraca contracção dos músculos da bexiga,
podem ser úteis os medicamentos que favorecem essa contracção, como o
betanecol.
Também pode ser útil exercer uma suave pressão comprimindo o
abdómen com as mãos, precisamente sobre a zona onde se encontra a bexiga,
especialmente para as pessoas que podem esvaziar a bexiga, mas que têm
dificuldades para o fazer completamente.
Exercícios terapêuticos para a incontinência urinária
Os seguintes exercícios são geralmente prescritos durante
a reabilitação da incontinência urinária. Deverão ser realizados 2 a 3 vezes por dia e apenas na condição
de não causarem ou aumentarem os sintomas.
Deitado, com os joelhos dobrados, contraia a
musculatura do períneo (imagine que está a interromper a micção). Mantenha a
contracção durante 8 segundos e retorne lentamente à posição inicial.
Repita entre 8 a 12 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma.
Fortalecimento do transverso do abdómen
Deitado, com o
elástico à volta da cintura. Pressionar o fundo das costas contra o chão e
tentar diminuir o diâmetro da cintura. Mantenha a contracção durante 8
segundos. Retorne lentamente à posição inicial.
Repita entre 8 e 12 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma.
Em pé, com uma perna à frente e segurando um
bastão ao nível da cintura. Dobre o joelho à frente enquanto expira e leva o
bastão para cima. Tente manter a contracção dos músculos do períneo enquanto
faz o movimento. Deite o ar fora lentamente enquanto baixa o bastão e estica o
joelho da frente. Mantenha sempre as costas alinhadas.
Repita entre 15 e 30 vezes, alternando a perna que fica à frente, desde
que não desperte nenhum sintoma.
Antes de iniciar estes exercícios você deve
sempre aconselhar-se com o seu fisioterapeuta.
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