Segundo a Organização Mundial de Saúde, 15 milhões
de pessoas no mundo têm um acidente vascular cerebral a cada ano. Uma das
principais preocupações para os indivíduos que sofrem de acidente vascular
cerebral é a capacidade de recuperar a capacidade de marcha.
Estudos recentes em reabilitação pós-AVC têm demonstrado
que a aplicação dos princípios da adaptação neuro-motora no exercício de
caminhar no tapete rolante com cinta dupla pode levar a melhorias na simetria do
comprimento do passo a curto prazo. Para obter essas melhorias, a assimetria no
comprimento do passo deve ser exagerada durante o treino na passadeira.
Especificamente, uma pessoa com acidente vascular
cerebral, que dá um passo mais longo com a perna parética e um passo mais curto
com a perna não parética precisaria andar na passadeira com a perna parética na
cinta lenta.
Inicialmente, isso fará com que a pessoa dê um passo
ainda mais longo com a perna parética e um passo ainda mais curto com a perna
não parética, mas ao longo do tempo (inferior a 15 minutos), a pessoa que irá
corrigir a assimetria exagerada, alongando o passo da perna não parética e encurtando
o passo perna acometida. Quando as cintas voltam a estar à mesma velocidade, a
pessoa irá continuar este padrão ajustado, resultando na melhoria da assimetria
do comprimento do passo.
As melhorias são de curta duração, e passados vários
minutos a caminhar no chão ou passadeira regular a pessoa retorna ao padrão de
assimetria. No entanto, estes resultados demonstram que as pessoas pós-AVC
retêm a capacidade de produzir um padrão de marcha mais simétrico, o que
poderia ser capitalizado durante a sua reabilitação.
Assim, o objetivo deste estudo de caso foi o de aplicar
o treino repetitivo numa passadeira de dupla cinta a um pessoa que tinha
sofrido um AVC para determinar se poderiam ser alcançadas mudanças de longo
prazo na assimetria do comprimento do passo e funcionalidade da marcha.
Apresentação de caso clínico
- Mulher, 36 anos, estudante de doutoramento, sofreu um único acidente vascular cerebral hemorrágico, de etiologia indeterminada, envolvendo a região insular direita, 1 ano e sete meses antes do início deste estudo.
- A paciente tinha feito reabilitação, mas terminado vários meses antes deste estudo. A atividade física era inconsistente, baseada em caminhada, quando o tempo permitia.
- A participante era independente em todas as atividades da vida diária e não relatou história de quedas no último ano.
- Caminhava sem aparelho ortopédico ou de assistência, mas com uma velocidade lenta para alguém da sua idade, com o comprimento do passo maior e o tempo da fase de apoio menor no lado parético. (ver padrão demarcha característico)
Tratamento
- A participante treinou 3 dias/semana, durante 4 semanas. Cada sessão durou cerca de 1 hora, incluindo aquecimento na passadeira e descanso entre as séries. O treino foi desenhado com 6 séries de 5minutos, num total de 30 minutos a caminhar na passadeira com as cintas a velocidades diferentes. No entanto, na primeira sessão de treino, a participante apenas completou quatro séries, e nas segunda e terceira sessões apenas cinco séries, devido a fadiga. Nas restantes completou as 6 séries.
- Durante cada série de treino, frequência cardíaca e esforço percebido foram registrados aos 2 e 4 minutos. Se a percepção subjetiva de esforço ultrapassava os 15 ou a frequência cardíaca fosse superior a 80 % da frequência cardíaca máxima prevista para a idade, a participante fazia um intervalo de descanso.
- Em todos os treinos a participante colocava a perna parética na correia lenta e a perna não parética na correia rápida. A velocidade da correia rápida era de 1 m/s e a da lenta 0,5 m/s.
- Todos os dias, após a conclusão das 6 séries no tapete rolante, a paciente caminhava no chão por 5minutos, com a ajuda dos comandos verbais do seu fisioterapeuta para tentar manter o padrão melhorado que tinha conseguido no tapete rolante.
Resultados
Conclusões
Estudos anteriores, com uma sessão única de treino,
sugeriram que as intervenções de reabilitação que utilizam a adaptação neuro-motora
podem ser eficazes na melhoria de deficits específicos de movimento pós-AVC.
Este estudo de caso é o primeiro estudo que
demonstra que, através da prática repetitiva, é possível capitalizar as adaptações
de curto prazo observadas em estudos anteriores, e obter melhorias a longo
prazo.
Foram observadas melhorias na assimetria do
comprimento do passo da participante, e essas melhorias foram mantidas um mês
mais tarde.
Mais investigação está em andamento para determinar
se serão observadas melhorias semelhantes num grupo maior de indivíduos, e para determinar as características de base que
influenciam a resposta de uma pessoa a esta intervenção.
Reisman DS, McLean H, Bastian AJ. Split-belt treadmill training poststroke: a case study. J Neurol Phys Ther. 2010 Dec;34(4):202-7.
Agora dispomos de um serviço de reabilitação prestado por fisioterapeutas especializados nesta patologia. Clique aqui para saber mais.
Pode ver aqui outro estudo de caso clínico sobre reabilitação pós-AVC.
Agora dispomos de um serviço de reabilitação prestado por fisioterapeutas especializados nesta patologia. Clique aqui para saber mais.
Sem comentários:
Enviar um comentário