Autora: Fisioterapeuta Catarina Gonçalves
A
cicatrização subentende um conjunto de processos biológicos cuja finalidade é a
reparação e preservação do tecido lesado.
As
cicatrizes podem apresentar diversas dimensões e até alterações de pigmentação
(cor). Podem considerar-se normais, atróficas, hipertróficas ou quelóides. As
duas últimas caracterizam-se por um crescimento excessivo de tecido fibroso,
após o processo inflamatório. Embora não haja evidência na literatura,
estima-se que a incidência da cicatrização hipertrófica seja seguramente mais
elevada que a queloideana.
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Sinais
As
cicatrizes hipertróficas e quelóides são variações da cicatrização normal,
representando uma resposta hiperproliferativa do tecido conjuntivo à agressão.
Ambas
apresentam-se elevadas e com coloração rosa. No entanto a quelóide tem um
aspeto brilhante (sem pêlos nem glândulas) e ultrapassa os limites da ferida,
invadindo o tecido normal adjacente de forma irregular. Esta origina ainda a
sensação de prurido, é dolorosa, nodular e não regride espontaneamente ao longo
do tempo. No caso da hipertrófica, apresenta tensão, as margens limitam-se à
área original, contém fibras elásticas e tende à regressão espontânea.
Vários
autores defendem que a quelóide é uma variação da cicatriz hipertrófica, mas
ainda não é consensual esta classificação.
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Etiologia
Indivíduos
de raça negra, asiáticos, com pele morena (fotótipo IV e V), com antecedentes
familiares e de grupo sanguíneo A, apresentam maior predisposição para o
aparecimento de cicatrizes atípicas. Há ainda maior probabilidade de ocorrência
destas cicatrizes entre a 2ª e 4º década de vida. A região do esterno, tórax,
lóbulo da orelha, queixo e ombros, são as regiões do corpo mais afetadas.
Causas
A
cicatrização define-se como um conjunto de etapas fisiológicas e bioquímicas
que ocorrem no organismo, em resposta a uma agressão, e que finaliza com a
reparação do tecido lesado. Corpos estranhos, tecidos necróticos, isquemia,
incisão contra a orientação das linhas de Langer e tração na ferida, são fatores
que prejudicam a normal cicatrização. Os processos de cicatrização anormal
formam-se por deposição excessiva de colagénio (fibra que dá firmeza à pele),
devido à demasiada proliferação de fibroblastos após a lesão tecidual. Esta
deposição é feita em espiral, e não na orientação da fenda. Existem outros fatores
que podem desencadear este processo como inflamação, infeção, trauma (queimaduras)
e acne.
Tratamento
A
literatura não é consensual em relação ao tratamento deste problema. Contudo,
que a prevenção é uma prática eficiente e que a conjugação de várias técnicas
potencia os resultados e diminui a probabilidade de recidiva. O tratamento da
cicatriz hipertrófica e quelóide é bastante similar.
Remoção
cirúrgica – nem sempre funciona, a maior parte das vezes leva a recidiva e, em
alguns casos, pior que a anterior. No entanto, quando combinada com injeção de
corticóides, reduz em 50% a probabilidade de recidiva. Apenas indicado após 6 a 12 meses.
Infiltração
de corticóides – é uma das técnicas mais utilizadas, apresentando 50% de
probabilidade de sucesso. O efeito da terapia é inibir determinadas proteínas
da matriz extracelular e reduzir os inibidores da colagenase (enzima
responsável pela degradação do colagénio). A aplicação é dolorosa e tem como
efeitos secundários atrofia cutânea, telangiectasias, ulceração e síndrome de
Cushing.
Compressão
– pressão mantida continuamente durante 6 a 12 meses, geralmente com malha compressiva,
que deve ser aplicada após completa epitelização da ferida. Suspeita-se que a
compressão provoque a oclusão dos pequenos vasos, o que reduz a quantidade de
fibroblastos e, como tal, a produção de colagénio. Este recurso apresenta
melhores resultados no tratamento da cicatriz hipertrófica.
Crioterapia
– esta técnica provoca a diminuição da temperatura, o que leva a lesão celular
e diminuição da circulação. Esta reação não permite a normal evolução da
cicatriz, o que é uma desvantagem desta técnica, pois atrasa a cicatrização e
pode ainda causar hipopigmentação (perda de cor). Quando associada à
infiltração de corticóides, apresenta uma taxa de êxito de 51% a 80%.
Massagem – associada
a cremes hidratantes ou com corticóides. Apesar da massagem favorecer o
processo de cicatrização e melhorar a mobilidade da cicatriz, a sua utilização
deve ser ponderada já que aumenta a circulação local e por isso pode levar a
uma maior produção de colagénio.
Silicone
(creme ou gel) – controla os níveis do fator de crescimento dos fibroblastos,
aumenta a temperatura e, consequentemente, aumenta a atividade da colagenase.
Acredita-se ainda que a aplicação em gel tenha simultaneamente um efeito
compressivo.
Laserterapia
– o laser lesa seletivamente a microcirculação na área da lesão, o que reduz o
eritema, o volume e o prurido. Os resultados serão mais satisfatórios com a
combinação de outras técnicas.
Ionização –
corrente galvânica associada a indução de produtos ativos. Entre estes podem
usar-se a hialuronidase, que despolimeriza o ácido hialurónico aumentando a
permeabilidade das membranas celulares.
Ultra-som/Fonoforese
– usado para diminuir as aderências cicatriciais. Pode ainda usar-se a
fonoforese que consiste na indução de produtos ativos através do ultra-som.
Radioterapia
– uma técnica em desuso pelo risco de desencadear propriedades cancerígenas.
Contudo é ponderada em adultos com quelóides graves, que resistiram aos
restantes tratamentos, dada a boa eficácia da técnica.
Proteção
solar – não se trata de um tratamento mas de uma prevenção, para evitar que a
hiperpigmentação da cicatriz (cor mais escura).
Fisioterapeuta Catarina Gonçalves
Licenciada em Fisioterapia na ESSVS (2010)
Monitora de PNF-Chi (2009)
Curso de Fisioterapia Dermato funcional Corporal (2010)
Curso de Auriculoacunpunctura aplicada à Dermato funcional (2010)
Curso de Pré e Pós-operatório de Cirurgia Estética: a intervenção da Fisioterapia Dermato funcional (2012)
Fisioterapeuta dermato funcional em Clinipark, Centro Clínico Ana M. B. Santos
Fisioterapeuta e instrutora de PNF-Chi em Momento de Pausa
Fisioterapeuta dermato funcional em Medical Corpus
Bibliografia:
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Guirro E; Guirro R. Fisioterapia Dermato-Funcional. 3ª
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Kreisner PE; Oliveira MG; Weismann
R. Cicatrização
hipertrófica e quelóides: revista de literatura e estratégias de tratamento.
Ver. Cir. Traumatol. Buco-maxilo-facial. Camaragibe v.5, n.1, p. 9-14. Jan/mar
2005
Salem C; Vidal A; Mariangel P;
Concha M.
Cicatrices hipertróficas y queloides. Cuad. Cir. 16: 77-86. 2002
1 comentário:
Olá também tive queloide, quem quiser ver meus relatos.... http://www.genayane.blogspot.com.br/
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