A radiculopatia
cervical (RC) é uma condição patológica na raiz dos nervos cervicais (RNC), que
pode levar à dor crónica e incapacidade. O início desta condição é geralmente
insidioso e mais comumente é causado por perturbação do disco cervical ou outra
lesão que ocupe o espaço reservado à passagem do nervo, resultando em
inflamação da raiz nervosa, compressão ou ambos.
A presença de
estímulos lesivos ao redor da RNC altera a sua estrutura e função normais,
conduzindo eventualmente à inflamação neural, ao edema, à hipoxia, isquemia
e/ou fibrose, limitação do movimento de deslizamento e aumento da mecanosensibilidade.
Com base neste conceito, muitas intervenções terapêuticas manuais têm sido
propostas para restabelecer estas alterações e, portanto, para eliminar a dor e
incapacidades causadas pela RC.
O objetivo deste
estudo de caso é apresentar o efeito da tração cervical combinado com
mobilização neural na dor e incapacidade de um paciente com RC.
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Apresentação de caso
- A paciente apresentou-se com uma história de dor cervico-braquial neurológica com dois meses de duração.
- Os sintomas tiveram início súbito, sem nenhuma causa aparente, e eram:
- Dor em queimação constante abaixo do lado occipital e esquerdo do pescoço (dor A - 4/10)
- Dor tipo choque eléctrico constante, irradiando a partir da face lateral do ombro esquerdo para a articulação do cotovelo (dor B - 4/10).
- Sensação de formigueiro que ocorre na face lateral da articulação do cotovelo.
- Há três semanas atrás, e sem nenhuma razão aparente, a intensidade dos sintomas aumentou significativamente (dor A - 8/10, e dor B - 7/10), afetando o trabalho da paciente como administrativa e forçando-a a visitar um médico ortopedista.
- Raios-X, ressonância magnética e tomografia computadorizada da coluna cervical indicaram um diagnóstico de RC, devido a estenose foraminal cervical entre C4-C5.
- Os sintomas foram relacionados e agravados (dor A - 10/10, Dor B - 10/10) com certos movimentos do pescoço (extensão, rotação ipsilateral e inclinação) ombro (abdução), cotovelo (extensão completa) e punho (extensão).
- O consumo de anti-inflamatórios não-esteróides por parte da paciente não proporcionou qualquer alívio da dor.
Exame Físico
- A observação da postura da paciente em posição de pé e sentado ao computador revelou uma postura anteriorizada da cabeça, em que a parte superior e inferior da coluna cervical estavam em extensão e flexão, respectivamente.
- A correção da postura da cabeça agravou os sintomas da paciente.
- No exame neurológico, o dermátomo C5 demonstrou redução da sensação ao toque leve.
- Diminuição da resistência do deltóide esquerdo (3/5) e bíceps (4/5), mas o reflexo de C5 foi normal.
- Foram aplicados movimentos combinados à coluna cervical para avaliar se os sintomas da paciente eram devidos à estenose foraminal:
- A aplicação da extensão do pescoço combinada com rotação ipsilateral e flexão lateral agravou a dor A e B, enquanto a aplicação de flexão do pescoço combinada com rotação contralateral e flexão lateral foi menos dolorosa.
- Uma série de diagnóstico clínico que consiste na aplicação da manobra de Spurling, teste de Distracção da cervical, teste de tensão neural do membro superior (nervo mediano) e rotação ipsilateral do pescoço (inferior a 60º) foi realizada para confirmar o diagnóstico de RC. Todos os testes foram positivos, porque reproduziram ou aliviaram os sintomas da paciente.
- Foram aplicados movimentos acessórios passivos intervertebrais póstero-anteriores, grau IV, como descrito por Maitland, sobre todos os processos espinhosos cervicais e identificando C4-C5 como o nível mais afectado.
Tratamento
- A paciente foi convidada a participar de 12 sessões de tratamento (três vezes por semana durante quatro semanas).
- Em cada sessão, ela foi colocada em decúbito dorsal, com o pescoço em posição neutra, recebendo tração cervical intermitente grau III e técnicas de mobilização neural (TMN) para deslizamento do nervo mediano, realizados de forma lenta e oscilatória.
- Foram aplicadas 6 séries de tração cervical, simultaneamente com a mobilização neural, por sessão. A tracção cervical foi aplicada por um fisioterapeuta assistente e mantidas durante 1 min e durante este período o fisioterapeuta principal aplicou as mobilizações neurais.
- Tração cervical e mobilizações neurais foram aplicadas ao mesmo tempo e cada série foi seguida por um período de repouso de 30s.
- Foram recolhidos os resultados no início e após 2 e 4 semanas de tratamento.
Resultados
Conclusões
Este estudo
descreve o efeito da tração cervical combinada com mobilização neural sobre a
dor e incapacidade num caso de RC. Estas técnicas foram aplicadas
simultaneamente, em vez de separadamente, por duas razões:
- Para proporcionar uma gestão mais eficaz da dor, devido à sua ação analgésica. Portanto, neste caso clínico foi levantada a hipótese de que a utilização simultânea das duas modalidades vai potenciar o efeito analgésico da terapia manual no tratamento da RC.
- Para evitar possível agravamento da dor. Na compressão da raiz do nervo, a presença de estímulos mecânicos pode não permitir a sua mobilização e isto pode aumentar a dor devida a RC. Assim, a tração cervical foi aplicada para alongar o foramen neural cervical em C4-C5 e descomprimir a raiz do nervo C5 enquanto se aplicavam as mobilizações neurais.
Verificou-se que
a utilização simultânea de tracção cervical e TMNs pode tratar esta patologia
em particular. Futuros estudos utilizando amostras maiores e medidas objetivas são
necessários para melhorar ainda mais o nosso conhecimento sobre o efeito
analgésico da tração cervical combinada com mobilização neural sobre as RC.
Savva C, Giakas G. The effect of cervical traction combined with neural mobilization on pain and disability in cervical radiculopathy. A case report. Man Ther. 2012 Jul 17.
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