Investigações anteriores
já demonstraram que os pais (ou outros cuidadores primários) são bastante
precisos na identificação de alterações de desenvolvimento nas suas próprias crianças e que suas preocupações iniciais são muitas vezes corroboradas por subsequente
avaliação profissional.
Este conhecimento tem
incentivado o uso da avaliação dos pais como uma estratégia eficaz e centrada
na família para a triagem do desenvolvimento das crianças, de modo que possam
ser feitas as referências apropriadas para posterior avaliação e intervenção
pela consulta de desenvolvimento.
O Harris Infant Neuromotor
Test (HINT) é uma ferramenta de triagem projetada para discriminar o
desenvolvimento típico dos atípicos em bebés entre os 2,5 e os 12,5 meses. O HINT
é composto por três partes:
- informações básicas sobre a gravidez e o parto
- 5 questões com a opinião dos pais sobre o movimento/interacção da criança
- o examinador administra 21 itens que, quando somados, determinam a pontuação total HINT.
Os itens na parte III
envolvem principalmente a avaliação observacional da capacidade da criança se
mover em várias posições, amplitude de movimento passivo, tónus muscular, observação
do movimento anti-gravidade, postura das mãos e dos pés, frequência e variedade
de movimentos, comportamento geral da criança e cooperação durante o teste, a
presença de comportamentos estereotipados e medição da circunferência da
cabeça.
Este estudo de caso tem
por objectivo avaliar a validade do HINT na identificação de atrasos de
desenvolvimento em três casos de crianças encaminhadas para o autor pelos pais,
por preocupações com o seu desenvolvimento. O autor comparou ainda os
resultados da terceira parte do HINT com os resultados na Bayley-II Motor Scale,
para uma valiação da avaliação do desenvolvimento mais abrangente nestes três
casos.
Apresentação dos casos clínicos
Todas as três crianças
eram meninas, nascidas a termo, com peso e comprimento adequado para a idade
gestacional, embora a criança 2 estivesse no limite do pequeno para a idade gestacional.
Não houve dificuldades nas gestações ou partos.
Cada criança foi
encaminhada para o autor para avaliação do desenvolvimento por expressas
preocupações dos pais sobre possíveis atrasos motores nos seus filhos, como
moleza ou baixo tónus muscular e/ou possível paralisia cerebral.
Testes utilizados
Em relação ao HINT, quanto
maior a pontuação total, maior é o atraso em habilidades motoras. Com base nos
dados normativos, a criança é considerada desenvolvida de forma apropriada se o
resultado está dentro da média ±1 DP para a sua faixa etária. Bebés com mais
que 1 DP acima da média são encaminhados para uma avaliação mais abrangente, em
que se utilize, por exemplo, a Bayley-II Motor Scale, que tem um score máximo
de 100, e em que as crianças com 1 a 2 DP baixo da média são consideradas com
ligeiro atraso de desenvolvimento e as com mais de 2 DP são consideradas com
atraso significativo e devem ser encaminhadas para serviços de intervenção
precoce.
Ambos os testes foram
administrados por um fisioterapeuta especializado em pediatria, com mais de 30
anos de experiência clínica.
Como o HINT é um teste de
rastreio, foi administrado primeiro, seguido pela Bayley-II Motor Scale. Cada
mãe estava presente para a avaliação e completou as cinco perguntas do HINT que
lhe eram destinadas antes da parte motora do teste ter sido aplicada pelo fisioterapeuta.
Resultados
Criança 1: 9,5 meses, 1ª
filha, foi acompanhada pela mãe e pelo pai. Ambos os pais e o médico de família
tinham observado sinais de preocupação quando a bebé tinha 6-7 meses de idade,
ou seja, que ela era pequena e ainda não se sentava de forma independente.
Aos 7-8 meses, a mãe
descrevia a bebé como "mole", não se querendo sentar ou suportar o seu
peso em pé apoiada. Uma recente avaliação por um pediatra incluiu referência
para testes de níveis de creatina fosfoquinase, função renal e hepática e
exames de ultra-som abdominal e craniano. De acordo com os pais, todos os
resultados dos testes estavam dentro dos limites normais.
No questionário HINT para
os pais, estes diferiram um pouco nas suas respostas. Na questão 2 o pai
considerou que os movimentos da criança eram "ótimos", a mãe
respondeu que "estava um pouco preocupada". Na questão 3, o pai
sentiu que a bebé estava "um pouco atrasada", enquanto a mãe
respondeu "muito atrasada", no que diz respeito à questão 4, o pai
não tinha outras preocupações, mas a mãe expressou preocupações sobre a
capacidade limitada da criança em se mover contra gravidade e não gostar de ser
colocada em decúbito ventral. Na questão 5, a mãe relatou que o médico da
família estava preocupado por a bebé ainda não se sentar ou “usar as pernas”.
Qualitativamente, os
resultados do HINT e do Bayley-II Motor Scale apresentaram maiores atrasos do
que os expressos pelo pai (um pouco atrasado), mais comparáveis com aqueles
expressos pela mãe (muito atrasada).
Criança 2: 9 meses e 21
dias, a mãe havia expressado preocupações de que a criança era "mole”, com
atraso a alcançar metas motoras. Havia sido encaminhada pelo médico de família
a um pediatra que ordenou um eletroencefalograma, tomografia computadorizada, e
vários exames de sangue e urina. De acordo com a mãe da criança, todos os
resultados estavam dentro dos limites normais.
Na questão 1 do HINT, a
mãe descreveu a bebé como “mole e preguiçosa, um pouco solta/um pouco pressa",
por exemplo, que a criança arqueava as costas para a frente quando sentada. Na
questão 2 estava "tudo bem, mas um pouco preocupada" e à questão 3
"ligeiramente atrasada/um pouco para trás". Na questão 5, relatou que
sua própria mãe e irmã, o seu melhor amigo e um terapeuta ocupacional pediátrico
também estavam preocupados com a bebé.
Qualitativamente, os
resultados do HINT e do Bayley-II Motor Scale sugerem um maior grau de atraso
do que foi relatado pela mãe na questão 3 da HINT, ou seja, um pouco atrasada.
Criança 3: 13 meses, 1ª filha.
Embora fosse tecnicamente mais velha do que a faixa etária coberta pela HINT,
ainda era possível calcular a idade neuromotora equivalente e comparar a sua
pontuação HINT total com os dados normativos de crianças com 12 meses de idade.
A mãe havia expressado preocupações de que a sua filha parecia ter "um tónus
baixo", e que ambos os pais estavam preocupados que a bebé ainda não
gatinhava ou ficava em pé independentemente.
Na questão 1 do HINT a mãe
descreveu a sua filha como "mole e preguiçosa", na questão 2, revelou
que estava "um pouco preocupada" e sentiu que sua filha estava
"um pouco atrasada" (pergunta 3). Na questão 4 a mãe comentou que
estava preocupada por a bebé ainda não se agarrar à mobília para se manter de
pé. Na questão 5, o marido também estava "um pouco preocupado".
Qualitativamente, os
resultados do HINT e do Bayley-II Motor Scale sugerem atrasos motores
significativos, enquanto a mãe expressou, na questão 2, que estava apenas
"um pouco preocupada" e pensou que a sua filha estava apenas "um
pouco atrasada" na questão 3.
Conclusão
Os fisioterapeutas especializados
em pediatria devem ouvir atentamente as preocupações dos pais sobre os seus
filhos e tomar medidas para fornecer avaliação do desenvolvimento motor e,
quando for o caso, encaminhar as crianças para posterior avaliação mais
abrangente e/ou serviços de intervenção precoce.
Harris SR. Listening to parents' concerns: three case examples of infants with developmental motor delays. Pediatr Phys Ther. 2009 Fall;21(3):269-74.
Sem comentários:
Enviar um comentário