quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Exercícios específicos de fisioterapia para a escoliose – parte 3

Nas últimas décadas, tem havido um apelo à mudança entre as partes envolvidas na gestão da escoliose idiopática. Os pais de crianças com escoliose queixam-se do chamado "esperar e ver" de muitos médicos ao verem escolioses entre 10° e 25°, e cada vez mais procuram outras soluções.

Nesse sentido, iremos resumir neste artigo com 7 partes, as ideias das sete principais escolas no tratamento de escoliose a nível mundial, e as suas abordagens aos exercícios específicos de fisioterapia para a escoliose (EEFE).

O objetivo não é determinar qual abordagem é superior, mas sim que os fisioterapeutas possam incorporar o melhor de cada uma delas na sua prática clínica, melhorando os resultados do tratamento conservador para a escoliose idiopática.

Scientific exercise approach to scoliosis – SEAS (Itália)


O método SEAS é um programa de exercícios individualizado, cientificamente adaptado a todos os aspetos do tratamento conservador da escoliose, que se concentra em recuperar o controlo postural e melhorar a estabilidade espinal através de exercícios de auto-correção ativa 3D da postura escoliótica.

Para curvas suaves a moderadas durante o crescimento ativo, o SEAS é usado isoladamente para reduzir a necessidade de apoio.
Nas curvas moderadas a graves durante o crescimento ativo, o SEAS é usado em combinação com o colete para retardar, parar e possivelmente reverter a progressão da curva, e na preparação para o “desmame” da órtese.
Em pacientes adultos com escoliose, com curvas progressivas ou fundidas, o SEAS ajuda a estabilizar a coluna vertebral e a reduzir a incapacidade.

Os exercícios do SEAS treinam os sistemas neuromotores para ativar um reflexo de auto-correção da postura durante as atividades da vida diária. O SEAS pode ser realizado em regime ambulatorial (2-3 vezes por semana durante 45 min) ou como um programa de exercícios domiciliares de 20 min diariamente, em conjunto com sessões de fisioterapia especializadas de 1,5h a cada três meses para avaliação contínua e adaptação da terapêutica.



Princípios de correção 3D


Ao paciente é solicitado que se coloque quatro questões e que as responda:

1. "A minha coluna está apoiada e não relaxada?"
Durante a realização dos exercícios SEAS, os pacientes são sempre orientados a começar a partir de onde a coluna está numa posição de apoio básico. Uma vez ciente de que a coluna está suportada e não relaxada, o paciente então executa a auto-correção primeiro com a ajuda de um espelho e mais tarde sem.

2. "O meu corpo está mais simétrico do que antes?"
Como o paciente inicialmente executa a auto-correção à frente do espelho, o primeiro teste é visual (vejo que meu corpo é agora mais simétrico do que antes). Mas ao longo do tempo deverá ser capaz de sentir que o seu corpo é mais simétrico e de realizar exercícios sem a ajuda do espelho.

3. "Ao fazer o exercício, sou capaz de manter a correção?"
A resposta a esta pergunta ajuda o fisioterapeuta a ajustar o nível de dificuldade dos exercícios. Se o paciente é capaz de manter a correção, o terapeuta pode decidir aumentar a dificuldade do exercício. Se o paciente é incapaz de manter a correção, deve realizar um exercício menos difícil.

4. "Sou capaz de reconhecer que o meu corpo retorna à posição em que estava antes de realizar a auto-correção?"
O paciente realiza o exercício por cerca de 10 segundos, depois relaxa lentamente, retornando da posição auto-corrigida para a sua posição normal. 
Ao responder "sim" a esta pergunta, isso significa que o paciente foi capaz de observar a mudança de posição. Se o paciente responde "não" a esta questão, isso significa que a auto-correção foi perdida em algum momento durante a execução do exercício, e o exercício realizado perdeu a sua especificidade corretiva.

Colete Sibilla

Na escoliose progressiva leve (até 30° Cobb) que não pode ser controlada através de exercícios SEAS, o primeiro objectivo é evitar a progressão, permitindo a máxima liberdade possível nas actividades da vida diária e reduzir o desconforto causado pelo colete.
Nestes casos, o colete escolhido será menos rígido (Sibilla) e terá de ser usado durante 18 a 20h por dia até o final do período progressivo (até estágio 3 de Risser), altura em que o doente fará o “desmame” do colete.

Colete Sforzesco

Na escoliose grave do adolescente (até 45° -50° Cobb), e se o paciente não quer ser operado ou a cirurgia não é uma opção viável, o objetivo é, no mínimo, evitar a progressão, contudo, isso não garante a estabilidade na idade adulta.
Nestes casos, o colete mais rígido (Sforzesco) é usado todo o dia durante pelo menos um ano. O uso do colete é então gradualmente reduzido em 1/2 horas a cada seis meses, mantendo os resultados, e deve ser usado até 18 h por dia, até Risser estágio 3.



Berdishevsky H, Lebel VA, Bettany-Saltikov J, Rigo M, Lebel A, Hennes A, Romano M, Białek M, M'hango A, Betts T, de Mauroy JC, Durmala J. Physiotherapy scoliosis-specific exercises - a comprehensive review of seven major schools. Scoliosis Spinal Disord. 2016 Aug 4;11:20.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

As 5 principais neuropatias nos membros inferiores: Anatomia e Ressonância Magnética

Embora os nervos possam ser lesados em qualquer lugar ao longo do seu percurso, a compressão nervosa periférica ocorre mais em locais específicos, como locais onde o nervo percorre túneis fibro-ósseos ou fibromusculares ou penetra nos músculos.

Tipicamente, o diagnóstico baseia-se na combinação de história clínica, exame físico e estudos eletrodiagnósticos. No entanto, estas informações podem ser insuficientes para fazer um diagnóstico preciso, e a imagem está a ser usada com frequência para confirmar diagnósticos.

A ressonância magnética (RM) e a ultrassonografia de alta resolução (US), como técnicas não-invasivas, fornecem valiosas informações espaciais ao fazer distinções diagnósticas importantes que não podem ser facilmente realizadas usando outros métodos existentes.

Embora ambos permitam a visualização anatómica direta, identificação da causa e localização de anormalidades primárias, a RM evidencia anormalidades de sinal dentro do próprio nervo e é considerada superior na delineação dos sinais indiretos associados à desnervação muscular.

A intensidade do sinal de um nervo normal na RM é de intermédia a baixa nas sequências ponderadas em T1, tornando-se ligeiramente mais alta em T2 e outras sequências sensíveis a fluidos.

Um sinal hiperintenso do músculo desnervado é geralmente associado a síndrome compressiva aguda, e a infiltração de gordura e atrofia muscular são os sinais de neuropatia crónica, em casos de longa duração.

Nervo ciático

A compressão do nervo ciático pode ocorrer na região da anca e, menos comumente, na coxa, e as apresentações clínicas são baseadas no nível da lesão.

A neuropatia ciática pode resultar de condições tais como compressão fibrosa ou muscular, compressão vascular, cicatrização relacionada com trauma ou radiação, tumores e neuropatia hipertrófica. A Síndrome do piramidal é um diagnóstico controverso, mas muitas vezes pensa-se estar relacionado com a compressão do nervo ciático.

A ressonância magnética pode mostrar variações na anatomia, hipertrofia muscular, bem como sinal anormal do nervo ciático.



Nervo Peroneal Comum

O impacto no nervo peroneal comum pode ocorrer ao nível da cabeça do peróneo, pela sua localização superficial, ou à medida que se desloca profundamente para a origem do músculo longo peroneal.

As etiologias da neuropatia peroneal comum podem incluir mononeurite idiopática, lesões intrínsecas e extrínsecas ocupantes de espaço, incluindo um quisto ganglionar intraneural ou lesão traumática do nervo, especialmente relacionada com fraturas proximais do perónio. Clinicamente, os pacientes podem sofrer dor no local da compressão, com sinais de pé pendente.

A RM é indicada para descrever a localização e a causa da compressão do nervo e avaliar o estágio da neuropatia (indicada pela denervação precoce do músculo ou alterações posteriores como atrofia).


Nervo tibial

A síndrome do túnel do tarso é uma neuropatia de compressão bem conhecida do nervo tibial posterior. Etiologias comuns incluem fibrose pós-traumática devido a fratura, tenossinovite, quistos ganglionares, lesões que ocupem espaço e veias dilatadas ou tortuosas.

A maioria dos pacientes com síndrome do túnel do tarso tem dor, ardor e parestesia ao longo da face plantar do pé e dedos.
A RM é útil para localizar patologias dentro do túnel do tarso e descrever a extensão da lesão e relação com o nervo.

A compressão do nervo tibial proximal é incomum. Ocorre quando o nervo tibial proximal passa sob a fossa tendinosa na origem do músculo solear. A apresentação clínica inclui dormência, parestesias na sola do pé e dor na face posterior da perna.

A RM é útil na deteção do aumento da intensidade do sinal em T2 do nervo, bem como na alteração do sinal nos músculos gastrocnémio e solear desnervados.


Nervo Interdigital

A causa mais comum para o neuroma de Morton é o stresse mecânico repetitivo com fibrose perineural subsequente, mas outras possibilidades incluem isquemia e compressão do nervo por uma bolsa intermetatarsal inflamada e aumentada.

Mais frequentemente ocorre entre o segundo e terceiro espaços intermetatarsais, muitas vezes associado à bursa intermetatarsal.


A aparência da ressonância magnética do neuroma de Morton é característica, tipicamente manifestada como uma massa de tecido mole em forma de lágrima, com sinal aumentado em ambas as imagens ponderadas em T1 e T2 entre as cabeças metatarsais.



Dong QJacobson JAJamadar DAGandikota GBrandon CMorag YFessell DPKim SMEntrapment neuropathies in the upper and lower limbs: anatomy and MRI features. Radiol Res Pract. 2012;2012:230679. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Exercícios específicos de fisioterapia para a escoliose – parte 2

Nas últimas décadas, tem havido um apelo à mudança entre as partes envolvidas na gestão da escoliose idiopática

Os pais de crianças com escoliose queixam-se do chamado "esperar e ver" de muitos médicos ao verem escolioses entre 10° e 25°, e cada vez mais procuram outras soluções.

Nesse sentido, iremos resumir neste artigo com 7 partes, as ideias das sete principais escolas no tratamento de escoliose a nível mundial, e as suas abordagens aos exercícios específicos de fisioterapia para a escoliose (EEFE).

O objetivo não é determinar qual abordagem é superior, mas sim que os fisioterapeutas possam incorporar o melhor de cada uma delas na sua prática clínica, melhorando os resultados do tratamento conservador para a escoliose idiopática.

O método de Schroth (Alemanha)


Baseado em princípios fisioterapêuticos típicos, o método de Schroth foi desenvolvido por Katharina Schroth em 1920 e continuamente aperfeiçoado ao longo do tratamento de aproximadamente 3000 casos de escoliose por ano.

A abordagem de tratamento inclui reabilitação intensiva de pacientes internados e fisioterapia em ambulatório, por terapeutas certificados da escola de Schroth.

Este método é usado principalmente para escoliose idiopática (EI), incluindo EI do adolescente e EI juvenil tardia. Pessoas com escoliose precoce, e adultos, são tratados com princípios modificados.

Deformidades no plano sagital, como hipercifose (cifose de Scheuermann) e lordose (costas invertidas) também podem ser tratadas com exercícios de Schroth.

Sistema de classificação


O sistema de classificação deriva do princípio de Schroth em dividir o corpo em “Body Blocks”.
Os diferentes tipos de escoliose começam sempre com a curva principal e são seguidos por curvas secundárias relevantes.

Blocos de Schroth:



Princípios do método de Schroth


No método de Schroth existe uma série de correções pélvicas que são cumpridas antes da execução dos principais princípios de correção do tronco.
O método também inclui mobilização e flexibilidade na coluna vertebral para melhorar a mobilidade articular antes dos exercícios. A ativação muscular é feita através da ativação específica de músculos que podem melhorar a correção, como o psoas-ilíaco, o quadrado lombar e o erector da espinha.

Os cinco princípios de correção do método de Schroth são:
  1. Auto-alongamento (destorção)
  2. Afastamento
  3. Desrotação
  4. Respiração rotacional
  5. Estabilização


Durante a aplicação destes princípios o doente é ensinado como “descolapsar” as áreas côncavas do tronco e como reduzir as proeminências.

Descrição dos exercícios do método Schroth

Quatro dos exercícios mais comumente usados no método Schroth são:

Exercício "50 x Pezziball"

Exercício Prone

Exercício Sail

Exercício Muscle-cylinder


Todos esses exercícios podem ser usados para todos os tipos de curvatura.

A principal vantagem deste programa reside na sua adaptação às actividades diárias normais com o objectivo de alterar a carga assimétrica no corpo, a fim de diminuir a progressão da curvatura e a dor.

Entre todas as abordagens de EEFE, o método de Schroth está entre as abordagens mais estudadas e amplamente utilizadas.


Berdishevsky H, Lebel VA, Bettany-Saltikov J, Rigo M, Lebel A, Hennes A, Romano M, Białek M, M'hango A, Betts T, de Mauroy JC, Durmala J. Physiotherapy scoliosis-specific exercises - a comprehensive review of seven major schools. Scoliosis Spinal Disord. 2016 Aug 4;11:20.

domingo, 4 de dezembro de 2016

As 10 principais neuropatias nos membros superiores: Anatomia e Ressonância Magnética

Embora os nervos possam ser lesados em qualquer lugar ao longo do seu percurso, a compressão nervosa periférica ocorre mais em locais específicos, como locais onde o nervo percorre túneis fibro-ósseos ou fibromusculares ou penetra nos músculos.

Tipicamente, o diagnóstico baseia-se na combinação de história clínica, exame físico e estudos eletrodiagnósticos. No entanto, estas informações podem ser insuficientes para fazer um diagnóstico preciso, e a imagem está a ser usada com frequência para confirmar diagnósticos.

A ressonância magnética (RM) e a ultrassonografia de alta resolução (US), como técnicas não-invasivas, fornecem valiosas informações espaciais ao fazer distinções diagnósticas importantes que não podem ser facilmente realizadas usando outros métodos existentes.

Embora ambos permitam a visualização anatómica direta, identificação da causa e localização de anormalidades primárias, a RM evidencia anormalidades de sinal dentro do próprio nervo e é considerada superior na delineação dos sinais indiretos associados à desnervação muscular.

A intensidade do sinal de um nervo normal na RM é de intermédia a baixa nas sequências ponderadas em T1, tornando-se ligeiramente mais alta em T2 e outras sequências sensíveis a fluidos.
Um sinal hiperintenso do músculo desnervado é geralmente associado a síndrome compressiva aguda, e a infiltração de gordura e atrofia muscular são os sinais de neuropatia crónica, em casos de longa duração.
  

Nervo supra-escapular

A compressão do nervo supraescapular, conhecida como síndrome do nervo supraescapular, pode ocorrer como resultado de trauma, ligamento escapular transverso anormal ou espessado ou compressão extrínseca por uma lesão que ocupe o seu espaço, comumente um quisto ou tumor do tecido mole.

A compressão na passagem suprascapular leva à desnervação do supra-espinhoso e do infra-espinhoso, enquanto a compressão mais distal, na passagem espinoglenoidal pode apresentar comprometimento isolado do músculo infra-espinhoso. Os pacientes podem apresentar dor difusa e desconforto na parte de trás do ombro ou na parte superior das costas, assim como fraqueza ao levantar o braço.


Nervo axilar


A síndrome do espaço quadrangular é uma condição incomum em que a artéria umeral circunflexa posterior e o nervo axilar são comprimidos dentro do espaço quadrangular. É causada por compressão dinâmica devido à abdução e rotação externa do ombro, ou por bandas fibrosas anormais, hipertrofia da musculatura adjacente ou lesões ocupantes de espaço.

As manifestações clínicas incluem dor difusa no ombro e parestesias no braço afetado numa distribuição não-dermatoma. A RM pode mostrar alteração do sinal ou atrofia do músculo redondo menor com ou sem envolvimento do músculo deltóide.


Nervo radial


O nervo radial está predisposto a lesão em vários locais:
  • No sulco espiral do úmero (síndrome do sulco espiral) acima da articulação do cotovelo,
  • Onde o nervo interósseo posterior (IP) percorre o túnel radial
  • Onde o ramo superficial do nervo radial atravessa o primeiro compartimento dorsal do punho (síndrome de Wartenberg).

A compressão do IP no túnel radial pode ter duas apresentações clínicas diferentes: síndrome do nervo interósseo posterior e síndrome do túnel radial.
Em pacientes com síndrome do IP, a apresentação clínica inclui deficits motores do grupo extensor sem perda sensorial significativa.
Pacientes com síndrome do túnel radial, por outro lado, tipicamente apresentam dor na zona lateral proximal do antebraço, que pode ter sido causada por trauma agudo e compressão de estruturas adjacentes.


Nervo cubital



A síndrome do túnel cubital é a segunda neuropatia periférica mais comum da extremidade superior. Pode ser causada por bandas fasciais anormais, subluxação ou deslocamento do nervo cubital sobre o epicôndilo mediano, trauma ou compressão direta por massas de tecidos moles.

Os sintomas clínicos incluem uma anormalidade sensorial na face cubital da mão e fraqueza do grupo de músculos flexores do carpo do 4º e 5º dedos. Os achados na RM são a ampliação e sinal hiperintenso apenas proximal ao túnel cubital, e uma mudança de calibre com achatamento distal.


Já a síndrome do canal de Guyon inclui lesões de ocupação espacial, trauma, músculos anómalos e aneurismas da artéria cubital. Pode estar associada a sintomas motores ou sensoriais, dependendo se a compressão envolve o nervo antes da bifurcação para os ramos superficial (sensorial) e profundo (motor) ou se a compressão se limita a um dos ramos.



Nervo mediano


 As neuropatias de compressão do nervo mediano incluem:

A síndrome de pronador, relativamente rara, e é produzida por compressão do nervo mediano entre as cabeças cubital e umeral do músculo do pronador.
As causas da síndrome do pronador podem relacionar ao trauma, às anormalidades congénitas, ou a hipertrofia do redondo pronador. Os achados clínicos incluem dor e dormência na face anterior do cotovelo, antebraço e punho sem fraqueza muscular.

A síndrome do nervo interósseo anterior (síndrome de Kilon-Nevin) é causada pela compressão do nervo interósseo anterior no antebraço. As causas semelhantes às descritas na síndrome de pronador. A RM é útil para mostrar alterações de intensidade de sinal relacionadas com a desnervação muscular, tipicamente envolvendo os músculos flexor profundo dos dedos, flexor longo do polegar e quadrado pronador.

A síndrome do túnel do carpo é, de longe, a causa mais comum de neuropatia por compressão. Embora muitos casos sejam idiopáticos, pode resultar de uma ampla variedade de etiologias, incluindo trauma repetitivo, condições relacionadas a alterações metabólicas e hormonais e quistos ganglionares.

Os pacientes com síndrome do túnel do carpo têm sintomas de ardência e dor no punho e parestesia ou dormência do 1º ao 3º dedo e aspecto radial do 4º dedo. Na RM da síndrome do túnel do carpo as visões axiais são as imagens mais úteis para demonstrar as alterações.


Dong QJacobson JAJamadar DAGandikota GBrandon CMorag YFessell DPKim SMEntrapment neuropathies in the upper and lower limbs: anatomy and MRI features. Radiol Res Pract. 2012;2012:230679. 

Um caso raro de rutura do Músculo Longo do Adutor

O adutor longo é um músculo longo e relativamente estreito, de forma triangular. O músculo tem origem no ramo superior do osso púbico e insere-se na parte média da linha áspera do fémur. As fibras musculares são estreitas na origem e espalham-se mais para a inserção.

O ramo anterior do nervo obturador inerva este músculo. E a sua função é a adução, rotação externa e anteversão da articulação da anca.

As ruturas subtotal ou total do músculo adutor longo são raras, mas esta lesão deve ser incluída no diagnóstico diferencial em pacientes com dor crónica na virilha ou lesões anteriores.

Um achado importante é uma história de trauma antes do início da dor na região da virilha. Uma descoberta física comum é a presença de um inchaço no lado interno da coxa.

Um mecanismo de trauma típico é uma sobrecarga excêntrica causada por abdução forçada durante a contração do grupo músculo adutor. Foram também descritas combinações com extensão e endorotação.

Um diagnóstico diferencial importante é a hérnia inguinal estrangulada, que causa dor aguda na região da virilha. Uma diferença importante nesse caso é a ausência de trauma.

Apresentação de caso clínico


Um homem de 32 anos apresentou-se no hospital com dor e falta de força na virilha e na região proximal da coxa direita, com início há três meses.

Os sintomas tinham começado durante um jogo de futebol. Depois de chutar a bola com o pé direito, sentiu uma dor aguda na virilha e na coxa. Ao mesmo tempo, experimentou uma sensação de “estalo/rasgar" na parte superior da coxa.

Após a lesão, foi incapaz de continuar a jogar. Não tinha história de dor na virilha ou problemas no adutor antes desta lesão.A fisioterapia intensiva após o incidente não deu alívio das suas queixas.

No exame físico não se observou inchaço ou hematoma. A amplitude de movimento de ambas as articulações da anca estava normal e sem dor.

Durante a contração dos adutores contra resistência houve uma massa palpável na região proximal da face interna da coxa, com uma depressão imediatamente a seguir, no sentido distal. O teste dos isquiotibiais não apresentou anormalidades.

Radiografias convencionais da pélvis e anca direitos não apresentaram anormalidades ósseas. A ressonância magnética (RM) revelou uma região de hipersinal intramuscular no adutor longo, com comprimento craniocaudal de 4,2 centímetros. Não houve retração do músculo.

Com base nos achados clínicos e na ressonância magnética o diagnóstico foi feito: uma ruptura intramuscular do adutor longo.

Tratamento conservador foi iniciado, consistindo em fisioterapia focada no alongamento do músculo seguido de treino de força. Após oito semanas, as queixas tinham desaparecido e o paciente tinha retomado a jogar futebol.

Quatro anos mais tarde, o paciente apresentava um inchaço persistente no lado interno da coxa sem dor.
O exame de RM adicional mostrou hipersinal subtil em imagens ponderadas em T1 na zona da rutura anterior do adutor longo, sem quaisquer anormalidades estruturais. Os achados foram discutidos com o paciente e nenhum tratamento adicional foi iniciado.

Pouco se sabe sobre o tratamento de uma ruptura isolada do adutor longo. Em outras lesões intramusculares, por exemplo, ruturas dogastrocnémio, o tratamento conservador é a primeira escolha de tratamento. A cura ocorre entre as 3-6 semanas com reabilitação acompanhada. Reserva-se as intervenções cirúrgicas para pacientes com complicações, como o aparecimento de miosite ossificante ou, na fase aguda, haver uma síndrome do compartimento agudo associada.


van de Kimmenade RJvan Bergen CJvan Deurzen PJVerhagen RA. A rare case of adductor longus muscle rupture. Case Rep Orthop. 2015;2015:840540.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Exercícios específicos de fisioterapia para a escoliose – parte 1

Nas últimas décadas, tem havido um apelo à mudança entre as partes envolvidas na gestão da escoliose idiopática. Os pais de crianças com escoliose queixam-se do chamado "esperar e ver" de muitos médicos ao avaliar escolioses em crianças entre 10° e 25°, e cada vez mais procuram outras soluções.

Nesse sentido, iremos resumir neste artigo com 7 partes, as ideias das sete principais escolas no tratamento de escoliose a nível mundial, e as suas abordagens aos exercícios específicos de fisioterapia para a escoliose (EEFE).

O objetivo não é determinar qual escola e abordagem de tratamento é superior, mas sim entender e aprender sobre os diferentes métodos de tratamento em todo o mundo, para que os fisioterapeutas possam incorporar o melhor de cada um nas suas próprias práticas, melhorando os resultados do tratamento conservador de pacientes com escoliose idiopática.

A abordagem de Lyon (França)


O método de Lyon combina os EEFE com o uso do colete e, mais recentemente, utiliza simultaneamente o EEFE com o colete, sob a forma do novo ARTbrace de Lyon (Asymmetrical Rigid Torsion).


O tratamento em fisioterapia inclui a mobilização 3D da coluna vertebral, a mobilização do ângulo ilio-lombar (escoliose lombar), a educação do paciente e as atividades da vida diária, incluindo a correção da posição sentada.

O protocolo de tratamento para a escoliose do método de Lyon depende da idade do paciente. Pacientes juvenis (menores de 15 a 17 anos) não fazem alongamentos p.ex.. Pacientes adolescentes completam todo o programa. Com pacientes adultos, o foco está na redução da dor e na proteção dos discos intervertebrais.

Os sistemas utilizados para planear a fisioterapia e o colete são as classificações Ponseti e Lenke, respectivamente.

O método Lyon de tratamento da escoliose envolve cinco etapas:

Fase I: Abordagem de Lyon para a avaliação
A abordagem de Lyon considera três fatores na determinação do regime de terapia a prosseguir: a idade do paciente, desequilíbrio postural e o ângulo de Cobb.

Fase II: Consciência da deformidade do tronco
A abordagem de Lyon usa a visualização com espelhos e vídeo para ajudar na correção de curvaturas.


Fase III: O que fazer: exercícios chave
A base do método de Lyon é evitar a extensão espinhal durante o exercício e aumentar a cifose da região torácica e a lordose da coluna lombar, bem como a mobilização segmentar, estabilização do centro, propriocepção, equilíbrio e estabilização. 
abordagem de Lyon, é dado grande ênfase aos exercícios feitos no molde de gesso antes do colete para incentivar o equilíbrio, força muscular e resistência quando com o colete.

Fase IV: O que não fazer e por quê
O método de Lyon evita movimentos extremos do plano sagital (flexão e extensão) e exercícios que causem falta de ar.

Fase V: Desporto ou apenas fisioterapia?
O método de Lyon ensina aos pacientes como praticar desportos e os melhores e piores desportos para a escoliose.

O método de Lyon utiliza a respiração angular rotacional com o diafragma, bem como uma máquina de respiração para aumentar a capacidade pulmonar. Este método também pretende melhorar a resistência da musculatura paraespinal profunda e central e concentra-se na mobilização para melhorar a correção.


O ARTbrace

O ARTbrace é um novo colete: assimétrico, rígida, feito de policarbonato de 4 mm. A cinta reproduz a forma de uma coluna torcida, oposta à escoliose. Ambas as hemi-conchas laterais de policarbonato articulam numa barra de metal posterior. Os fechos anteriores e inferiores são rígidos; o terço superior é uma cinta de velcro.

Nas figuras abaixo reproduzem-se os resultados do colete, usado por mais de dois anos num caso de escoliose progressiva.


A abordagem de Lyon não é apoiada por evidências científicas consistentes para casos em que o ângulo de Cobb é menor que 20°.


Para os casos em que o ângulo de Cobb é de 20° ou maior, o método depende principalmente da ARTbrace e do reforço para a sua eficácia. Sob essa abordagem, os exercícios de fisioterapia são vistos como complementares ao apoio rígido, e em cada caso são adaptados às necessidades particulares do indivíduo.


Berdishevsky HLebel VABettany-Saltikov JRigo MLebel AHennes ARomano MBiałek MM'hango ABetts Tde Mauroy JCDurmala JPhysiotherapy scoliosis-specific exercises - a comprehensive review of seven major schools. Scoliosis Spinal Disord. 2016 Aug 4;11:20.