A obesidade é uma das principais
causas de morbilidade e mortalidade nos países desenvolvidos, sendo considerada
um grave problema social
e de saúde pública.
A chave no combate à
obesidade reside na prevenção, mas um diagnóstico precoce e um tratamento eficaz e
multidisciplinar pode evitar muitas das complicações associadas à mesma.
Diagnóstico
Para um bom diagnóstico
é preciso uma história clínica descritiva e exame físico exaustivo.
Na história ponderal é
importante referenciar a idade de início da obesidade, evolução do peso, o carácter estático ou
dinâmico da curva de peso e as circunstâncias que motivaram o aumento de peso. Deve-se estar
atento a existência de perturbações do comportamento alimentar, distúrbios psiquiátricos não
diagnosticados e dependência de drogas ou álcool. É preciso avaliar a ingestão
calórica, o contexto
nutricional e os gastos energéticos. Doentes com antecedentes familiares de
obesidade podem apontar para uma causa genética ou para comportamentos
incorrectos partilhados.
O exame físico deverá
ser direccionado na procura de sinais associadas a doenças que cursam com obesidade secundária
(como são o hipotiroidismo, o síndrome de Cushing, o síndrome do ovário poliquístico ou o
hipogonadismo) assim como sinais características de co-morbilidades associadas à obesidade (Diabetes
mellitus tipo 2, hipertensão, dislipidemia, insuficiência cardíaca ou insuficiência respiratória).
Devemos observar a existência, ou não, de acantose nigricans, hirsutismo,
edemas periorbitários, fácies de lua cheia, pletora facial, estrias violáceas,
hiperpigmentação cutânea, xantomas ou xantelasmas. Sinais de hipervolemia ou sinais de
dificuldade respiratória podem alertar para a existência de complicações nestes
doentes.
A avaliação da
adiposidade global e regional vai ser definida pelo peso, estatura, índice de massa corporal (IMC), perímetro da cinta e da
anca, pregas cutâneas, determinação indirecta da percentagem de massa gorda (fórmula de Deurenberg)
e determinação directa do tecido adiposo por médio de tomografia computorizada, densitometria
(DEXA) ou Ressonância magnética. Recentemente tem sido proposto o uso de estádios da
obesidade baseado no impacto mecânico, metabólico e mental num continuum de agravamento
progressivo.
O estudo analítico
deverá incluir hemograma completo, perfil lipídico, bilirrubinas, transaminases e enzimas de colestase, creatinina
e ureia, ionograma, cálcio total, fósforo, glicose, HbA1c e/ou prova tolerância à
glicose oral, acido úrico, microalbuminúria, sumária de urina tipo 2. Em relação ao estudo hormonal, é
preciso estudar a função tiroideia (TSH e T4 livre), peptídeo C, insulina, e cortisol livre urinário; em
casos específicos deveremos dosear as gonadotrofinas (FSH e LH) e os esteróides
sexuais (testosterona total,
estradiol).
Sempre que a clínica justificar, deverão ser realizados
outros exames complementares como electrocardiograma, ecografia
abdonimo-pélvica, endoscopia digestiva alta, provas funcionais respiratórias ou polissonografia.
Tratamento
Na terapêutica da obesidade, um adequado plano alimentar e uma
actividade física regular são os pontos fundamentais para conseguir um balanço
energético negativo.
A restrição energética
de 500 a 1000 Kcal/dia traz consigo uma perda ponderal de 0,5-1 Kg/semana o que equivale a 8-10% do
peso corporal inicial num período de 6 meses. Já na distribuição dos macro-nutrientes dos
diferentes tipos de dietas, existe uma grande controversa tanto na eficácia como na manutenção da perda de
peso.
O que realmente foi demonstrado é que para um
mesmo balanço calórico, a distribuição de macronutrientes não é essencial sempre que a adesão ao
plano alimentar seja contínua. A actividade física como forma isolado de tratamento não parece ter
um papel relevante na perda de peso, mesmo que tenha sido demonstrado o seu benefício na redução da resistência a insulina e redução dos factores de risco cardiovascular. O exercício físico aeróbico isotónico moderado é
recomendado por contribuir em boa
medida para um balanço energético
negativo.
O tratamento farmacológico
da obesidade está indicado em doentes obesos já submetidos a plano alimentar com um
IMC>30 Kg/m2 ou
IMC>27 Kg/m2 se apresentarem
co-morbilidades associadas. A perda de peso conseguida com a terapêutica
farmacológica geralmente é inferior a 15% do peso inicial. Os fármacos utilizados na
perda de peso podem reduzir o aporte energético ou aumentar o gasto energético.
O orlistat é
actualmente o único fármaco aprovado pela EMA e comercializado em Portugal
para a perda de peso. No ano 2012 foram aprovados pela FDA dois novos fármacos para
os doentes obesos a lorcaserina e a combinação fentermina com
topiramato.
A cirurgia bariátrica
é considerada como o último passo no tratamento da obesidade. Está indicada em doentes com
obesidade com mais de dois anos de evolução, com idades
compreendidas entre os 18 e os 65 anos, com IMC >40Kg/m2 (ou IMC>35Kg/ m2 se apresentarem co-morbilidades
associadas) e nos quais um plano alimentar cumprido durante um mínimo de 12 meses
não trouxe consigo uma significativa perda ponderal.
A eficácia de qualquer
tipo de terapêutica nos doentes obesos depende da motivação para perder peso e da satisfação
do doente com a perda de peso e terapêutica utilizada.
XX Curso pós graduado de endocrinologia, diabetes e metabolismo. 29-29 de Março de 2014, Arquivos de Medicina, vol 28sup mar/abr 2014