sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Exercícios específicos de fisioterapia para a escoliose – parte 5


Nas últimas décadas, tem havido um apelo à mudança entre as partes envolvidas na gestão clínica da escoliose idiopática

Os pais de crianças com escoliose queixam-se do chamado "esperar e ver" de muitos médicos ao verem escolioses entre 10° e 25°, e cada vez mais procuram outras soluções.

Nesse sentido, iremos resumir neste artigo com 7 partes, as ideias das sete principais escolas no tratamento de escoliose a nível mundial, e as suas abordagens aos exercícios específicos de fisioterapia para a escoliose (EEFE).

O objetivo não é determinar qual abordagem é superior, mas sim que os fisioterapeutas possam incorporar o melhor de cada uma delas na sua prática clínica, melhorando os resultados do tratamento conservador para a escoliose idiopática.

The Dobomed method (Polónia)

A técnica básica do método Dobomed é a correção ativa em 3D, envolvendo a mobilização da curvatura primária, com ênfase especial na “cifosização” da coluna torácica e/ou “lordosização” da coluna lombar.

Essa mobilização da curva primária é realizada em cadeia cinética fechada e desenvolvida sobre uma pélvis e cintura escapular simetricamente posicionadas.

A pélvis e os ombros são posicionados primeiro e mantidos estáveis durante a todo o exercício e as fases de inspiração e expiração, parte da respiração ativa assimétrica.

O método Dobomed usa a técnica de respiração de "phased-lock" para auxiliar na correção e estabilização da coluna vertebral.
Na respiração " phased-lock ", durante a inspiração, uma forte pressão local é aplicada no lado côncavo da curvatura, enquanto durante a expiração é aplicada uma facilitação subtil no lado convexo. Durante a expiração, a contração isométrica dos músculos do tronco ajuda a estabilizar a correção ou hipercorreção.

Por isto, a cooperação é o requisito básico no uso do método Dobomed, não sendo recomendado para crianças pequenas, incapazes de entender e realizar os exercícios.

O método Dobomed consiste em três partes:

1. Fase de flexão para frente: A autocorreção 3D ativa da coluna vertebral e caixa torácica durante a flexão para frente é um componente original e a principal técnica corretiva do método Dobomed. Exercícios de flexão para frente são projetados em cadeias cinéticas fechadas para aumentar a sua eficácia. A flexão para frente é feita com fixação rígida da pélvis e da cintura escapular através dos membros superiores e inferiores.


2. Fase preparatória: No início da sessão de exercícios, após o aquecimento, são realizados exercícios em posições baixas. Essas posições baixas aliviam os paravertebrais do stress mecânico de suportar a coluna contra a gravidade. É provável que, por causa disso, a maior correção da escoliose seja observada nessas posições de baixa flexão. Um exercício de pausa é realizado entre exercícios em posições baixas. Um exercício de pausa consiste na “cifosização” ativa máxima da coluna torácica e “lordosização” da coluna lombar com correção simultânea da deformação da coluna.

3. Correção automática 3D ativa em posições verticais: Exercícios ativos de correção automática são realizados em posições altas (a coluna é colocada verticalmente), onde os músculos do tronco devem trabalhar para apoiar a coluna contra a força da gravidade.

A mobilização assimétrica do tronco em posições estritamente simétricas, como parte do método de Dobomed, mostrou diminuir os ângulos de Cobb e a rotação vertebral ou, no mínimo, interromper a progressão da escoliose.

Além disso, o tratamento conservador da escoliose idiopática usando o método Dobomed de exercícios respiratórios 3D intensivos ajuda a preservar a eficiência do exercício normal de pacientes com escoliose idiopática, medida pelo limiar anaeróbio ventilatório.


Berdishevsky H, Lebel VA, Bettany-Saltikov J, Rigo M, Lebel A, Hennes A, Romano M, Białek M, M'hango A, Betts T, de Mauroy JC, Durmala J. Physiotherapy scoliosis-specific exercises - a comprehensive review of seven major schools. Scoliosis Spinal Disord. 2016 Aug 4;11:20.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Fisioterapia na Cirurgia Cancro da Mama, o que diz a ciência sobre a sua reabilitação.


Autora: Fisioterapeuta Conceição Rebelo Andrade

A actuação do fisioterapeuta começa logo quando a doente é encaminhada pelo médico na fase pré-operatória, podendo e devendo prevenir uma série de complicações, sendo significativo o impacto causado pelo diagnóstico, tanto a nível psicológico, emocional, familiar, profissional e social.

Ao longo dos anos foram desenvolvidas orientações sobre a prática clínica baseadas na evidência. Havendo escassa literatura sobre a evidência clínica, existem Guidelines de prática clínica que dão orientações mais concretas no tratamento pós-operatório e tardio do cancro da Mama.

Sabemos que o tratamento do Cancro da Mama inclui várias opções,  cirúrgicas, quimioterapia, radioterapia, terapia hormonal e terapias alvo.
São vários os tipos de Cirurgia, consoante o tipo de tumor, a sua localização, tamanho, quantidade de tecido circundante a ser removido e história clínica da doente:

Cirurgia conservadora
Tumorectomia
Quandrantectomia

Mastectomia
Mastectomia simples
Mastectomia radical

Cirurgia Reconstrutiva
Colocação de protese simples
Transferencia de retalhos de pele
Retalhos do Musculo Grande Dorsal
Retalho Miocutâneo do músculo Reto Abdominal, TRAM
Retalho perfurante da artéria epigástrica profunda DIEP
Retalho perfurante da artéria superficial epigástrica inferior DIEAP
Estas diferentes abordagens podem ser acompanhadas com esvaziamento axilar ou pesquisa do gânglio sentinela, no qual a fisioterapeuta terá abordagens mais especificas.

O Internamento hospitalar

As complicações mais comuns do pós-operatório são:
  • Alterações funcionais com perda da força muscular
  • Rigidez articular com perda de amplitudes
  • Seroma
  • Axilary web sindrome /cordões linfáticos
  • Dor
  • Alteração da sensibilidade (lesão do nervo intercostobraquial)
  • Aderências e retrações das cicatrizes
  • Fadiga

Tendo o fisioterapeuta conhecimentos profundos das patologias oncológicas, sabendo as limitações hematológicas por Quimioterapia e as complicações que advém da Radioterapia, estabelece um plano de tratamento que inclui as várias fases de tratamento.
Toda a abordagem da fisioterapia no  pós-operatório imediato terá de ter em conta vários factores. Os mais importantes são:
  • História clínica do doente
  • Condição física
  • Tipo de cirurgia efectuada
  • Se teve tratamentos de Quimioterapia e outros


Cirurgia

1ªfase- Pré-operatória
  • Avalia alterações posturais, respiratórias, funcionais
  • Corrige alterações, ensinando exercícios para melhorar as capacidades musculares, funcionais e articulares dos membros
  • Aconselha cuidados a ter com o corpo, sobretudo com a pele
  • Alerta e aconselha o que deverá fazer após a sua cirurgia


2ªfase- Pós-operatório imediato
  • Ensinando exercícios de relaxamento para alivio da dor, exercícios respiratórios para aumentar as capacidades ventilatórias, prevenindo complicações respiratórias
  • Ensina posicionamentos do lado operado, para prevenção da dor
  • Aconselha quais os cuidados a ter com o lado operado, com a hidratação da pele
  • Motiva o doente para a reabilitação psicossocial, ajudando a encontrar os meios
  • Executa manobras de DLM, para aliviar o edema da parede torácica e estimular a circulação linfática, prevenindo possìveis seromas e complicações a nível da região axilar.
  • Estimula a doente a fazer a sua higiene pessoal
  • Motiva o doente para fazer actividade física e exercício

A Fisioterapia deverá começar logo no 1º dia pós cirurgia

1º ao 4º dia de internamento
·      Tendo em conta o tipo de cirurgia, os pontos e drenos
     ·     Deverá encorajar a doente a fazer, ensina e executa   movimentos suaves e progressivos activo-assistidos do ombro
       ·      Faz manobras de DLM
       ·      Executa exercícios respiratórios
       ·      Ensina a posicionar o membro do lado operado
       ·      Ensina posturas para alívio da dor

5º dia em diante até á alta hospitalar
O tempo de cada fase depende do estado clínico da doente, das complicações cirúrgicas se as houver, dos drenos, do processo de cicatrização, do tipo de cirurgia realizada, bem como as recomendações dos cirurgiões. Nesta fase o fisioterapeuta:
·      Estimula a continuação dos exercícios para aumento das amplitudes, respeitando a colocação dos drenos
·   Faz as manobras de DLM para prevenção do Seroma, Linfedema estimulando a circulação linfática
·      Insiste nos cuidados com a hidratação da pele
·      Ensina posturas e exercícios para alívio da dor
·     Insiste no aconselhamento dos cuidados a ter, motivando-a para a reabilitação em ambulatório ao exercício físico e ao retorno das suas actividades da vida diária

3ª Fase
Tratamento tardio e ambulatório que se prolonga durante os tratamentos de quimioterapia, Radioterapia e durante o folow up, para prevenção de complicações
Na fase de tratamento ambulatório que se prolonga durante os tratamentos de Quimioterapia e Radioterapia, a Fisioterapia tem um papel fundamental.
Quanto mais precocemente a doente é orientada para os tratamentos com a sua fisioterapeuta, mais rápida é a sua recuperação.

 As doentes que seguem as orientações e aderem ao plano de tratamentos de fisioterapia, diminuem o seu tempo de recuperação e mais depressa voltam às suas actividades quotidianas, desportivas, ocupacionais, readquirindo as amplitudes normais dos movimentos, força, boa postura, coordenação, auto estima e principalmente prevenindo complicações pós operatórias.
Esta abordagem na fase tardia deve ser feita, mesmo durante os anos seguintes acompanhando sempre o folow-up da doente.

Fase Tardia, Folow-up
 Após a avaliação o fisioterapeuta planifica os tratamentos em função das:
·        Alterações das amplitudes articulares e funcionais para que possa retomar as suas actividades quotidianas e, no caso de Radioterapia, não ter dificuldade para o realizar o posicionamento 
·       Nas aderências e retrações das cicatrizes, tendo a atenção que devem ser minimizadas quando efectuar a Radioterapia
·      Alterações da sensibilidade e neurológicas, massajando as áreas envolventes e sobretudo a parede torácica, incluindo todo o tecido mamário
·    Avaliando possíveis aparecimento de cordões linfáticos, tratando os com as técnicas recomendadas
·       No alívio da dor, com técnicas de relaxamento
·      Na prevenção e tratamento do Linfedema, sendo que no EA terá de fazer um folow up, avaliando trimestralmente a doente, para que possa precocemente tratar com as terapias linfáticas descongestivas
·       Relembra os cuidados a ter com o lado operado com a pele
·       Incentiva o exercício físico,encaminhando ou executando um plano de exercício que promova o alongamento, elasticidade/flexibilidade e aumentando progressivamente o grau de intensidade, carga e frequência
·      Incentiva a correção postural global, com exercícios específicos e com incentivando à sua auto correção postural
·        Motiva e incentiva o retorno ás actividades da vida diária o mais breve possível




Fisioterapeuta Conceição Rebelo de Andrade
·         ·         Bacharelato em Fisioterapia na Escola Superior de Saúde de Lisboa 1978;
·        ·         Especialização em Fisioterapia Oncológica, tendo desempenhado funções no IPOFG de Lisboa desde 1980;
·         Especialista em drenagem linfática Manual Método Leduc desde 1996 Cancro da Mama e Linfedema;
·         Colaboradora com a Faculdade de Medicina de Lisboa na docência da cadeira de Oncologia Médica;
·         Membro da organização do 1º curso Método Leduc em Lisboa;
·         Fisioterapeuta Orientadora de Estágio a alunas da ESTesL, Alcoitão;
·         Prática em Clinica Privada, Prestadora de Cuidados em Fisioterapia PTACS;
·         Colaboradora na Mamahelp Lisboa desde 2011
·         Colaboradora na Unidade de Mama Fundação Champalimaud desde 2011
·         Colaboradora Fisioterapeuta na Saudestrutural desde 2014.


Revisão bibliográfica
Clinical Practice Guidelines for Breast Cancer Rehabilitation 2012
Canadian Cancer Society-Exercises after breast surgery
Canadian Physiotherapy Association
European Consensus Rehabilitation After Breast Cancer treatment 2012