domingo, 11 de agosto de 2013

Influência da banda iliotibial na dor lombar de uma corredora de longas distâncias – estudo de caso clínico

A síndrome de fricção da banda iliotibial, também conhecida como síndrome da banda iliotibial (SBIT) ou tendinite iliotibial, é uma condição comum nos corredores de longas distâncias e ciclistas, que envolve várias estruturas dos membros inferiores.

O músculo tensor da fáscia lata (TFL) tem origem na espinha ilíaca ântero-superior e no aspecto anterior do bordo externo da crista ilíaca e insere-se na banda iliotibial (BIT), uma bainha tendinosa que se estende a partir do músculo TFL e se insere tubérculo de Gerdy na tíbia.

Portanto, a BIT abrange duas articulações, a anca e o joelho. As ações da BIT e do TFL são abdução da perna e rotação medial e flexão da coxa. O TFL também ajuda a estabilizar o joelho quando é extendido, e estabiliza o tronco inferior.
Por a BIT atravessar duas articulações, distúrbios da cadeia cinemática na extremidade inferior podem levar a biomecânica pélvica anormal.

A BIT vai ficando mais retraída à medida que absorve as forças de reação ao solo e, portanto, afeta sobretudo aqueles que correm longas distâncias. À medida que os tecidos envolvidos respondem à demanda/stress extremos, a BIT, glúteo máximo, glúteo médio e TFL ficam mais retraídos. O encurtamento/retracção na BIT afetam a amplitude de movimento do joelho, o que limita a sua amplitude de rotação interna. Esta diminuição da rotação interna pode mudar a biomecânica da anca, pélvis e região inferior da coluna lombar na fase de ataque ao solo. Nesta fase, a extremidade inferior está em posição de cadeia cinética fechada e as forças são transmitidas a partir do pé para cima no corpo.

Comumente, a SBIT apresenta-se como dor na face lateral do joelho ou na anca, no entanto, este estudo de caso identifica um paciente com dor lombar e na sacroilíaca, para a qual a SBIT parece ser um diagnóstico apropriado.

Apresentação de caso clínico

  • Uma paciente com 38 anos, corredora, solicitou atendimento por dor lombar generalizada e dor na sacroilíaca direita, no mês de abril.
  • Estes sintomas começaram no outubro anterior, mas foram aliviando um pouco ao longo dos meses de inverno, quando a paciente reduziu a frequência dos seus treinos mais longos (16-24Km).
  • O seu treino consistia em 8 a 13 Km/dia, 3 a 4x semana, mais um ou dois treinos de fundo. Isto durante anos sem dificuldade e sem história de lesão traumática.
  • Quando, nesta primavera, voltou a participar em provas mais longas, a dor voltou e gradualmente piorou.
  • Em abril, pouco antes do início da dor na sacroilíaca e lombar, ela tinha sentido dor ocasional na lateral da anca e joelho 3/10.
  • Após 3 a 4 dias de anti-inflamatórios a dor aliviou. Quando começou a sentir dor na sacroilíaca e lombar, voltou a tomar os anti-inflamatórios, mas sem resultado.
  • A dor na sacroilíaca e lombar tornou-se aguda e penetrante e parecia ser mais grave num círculo de 8cm, com a espinha ilíaca direita posterior superior no centro (6/10). Depois a dor foi-se estendendo à parte inferior das costas, região lombossacral esquerda e anca direita (4/10). Em pé, a intensidade da dor aumentava para 7/10 e 5/10, respectivamente, e ao caminhar para 9/10 e 7/10, respectivamente.
  • Na avaliação postural, vista posterior, a crista ilíaca esquerda estava mais baixa, com uma rotação pélvica para a esquerda, e o ombro esquerdo mais alto. Na lateral observou-se anteriorização da cabeça.
  • A palpação revelou sensibilidade do processo espinhoso de L5 e sacroilíaca direita. Foi observada fixação da sacroilíaca direita em extensão à palpação com movimento.
  • Houve também uma leve sensibilidade à palpação sobre o grande trocânter do fémur direito, face lateral da coxa e do joelho. Foram encontrados pontos-gatilho no glúteo máximo e médio direitos e no TFL.
  • As amplitudes de movimento ativas da coluna lombar, tornozelos, joelhos e ancas eram normais e não dolorosas.
  • Os testes de Gaenslen, de Kemp e de Patrick causaram aumento da dor na SI lombar direita. O teste de Lasègue foi negativo. A compressão ilíaca posterior causou aumento da dor na SI direita.
  • A BIT estava retraída à direita e o teste de Ober deu positivo.
  • A paciente foi diagnosticada como tendo retracção da BIT, com subsequentes contracturas musculares na coluna lombar e sacroilíaca.


Tratamento

  • O tratamento consistiu em manipulação de alta velocidade e baixa amplitude da sacroilíaca (com a paciente em decúbito lateral), mobilização da coluna lombar e gelo aplicado na sacroilíaca direita por 15 minutos, após a manipulação.
  • Isto foi feito três vezes por semana, durante 2 semanas.
  • Foram prescritos alongamentos da coluna lombar, sacroilíaca, e BIT, uma vez por dia, para promover o movimento nas articulações fixadas. Especificamente, o programa de alongamento consistiu em exercícios como puxar o joelho ao peito, rotações pélvicas, alongamento em flexão lombar completa, e marchar com elevação do joelho.
  • Também foi instruída para não correr ou fazer longas caminhadas.
  • Embora se tenha sentido melhor, a dor voltou quando ela retomou um programa de caminhada, a partir da segunda semana.
  • A reavaliação ainda revelou retracção da BIT, com pontos de gatilho localizados nos glúteos máximo e médio direitos e TFL. Neste momento, o plano de tratamento foi modificado. A manipulação continuou tal como descrito anteriormente. Foi iniciada terapia de pontos-gatilhos no glúteo máximo, glúteo médio e TFL, seguido de alongamento dos extensores da anca. Massagem de fricção foi realizada ao longo da BIT especialmente na sua inserção no côndilo lateral. Os tratamentos continuaram duas vezes por semana, durante 2 semanas.
  • Após estes tratamentos a paciente foi orientada a alongar a BIT duas vezes por dia, como representado nas figuras 1 e 2.


  • A paciente parecia responder favoravelmente ao tratamento e voltou às caminhadas de cerca de 30 minutos. Na semana seguinte começou a correr, restringida a três vezes por semana, não mais de 3,2Km. Foi instruída a correr apenas em superfícies planas e a participar também em desportos multidirecionais, como ténis e basquete.
  • Após três semanas deste tipo de treinos voltou gradualmente aos seus treinos normais, sem sintomas.


Conclusão


A SBIT, como muitas outras condições de sobre uso, deve ser considerada como uma possível causa da dor lombar em corredores e ciclistas. Através de sistemas de transmissão da força, as forças são transmitidas a partir do pé para a parte inferior das costas. Portanto, qualquer funcionamento anormal dos membros inferiores, incluindo músculos, ligamentos, tendões e fáscia pode causar alterações biomecânicas da anca e resultam na fixação da sacroilíaca e lombar. 

Kasunich NJ. Changes in low back pain in a long distance runner after stretching the iliotibial band. J Chiropr Med. 2003 Winter;2(1):37-40.

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