terça-feira, 13 de agosto de 2013

Lesões no ombro, o jugo da liberdade de movimento?

Entrevista com: 
Dr. Pedro Costa

P.: O ombro é das articulações que mais sofre de lesões por esforços repetitivos. Pode resumir-nos o que é que na mecânica desta articulação a torna tão susceptível a este tipo de lesão?
Há , de facto, várias características desta articulação que a tornam particularmente susceptível de sofrer tantas lesões. Em primeiro lugar o ombro é a articulação do nosso corpo com mais mobilidade. A sua anatomia permite um enorme arco de movimento em várias direcções  o que possibilita o posicionamento da mão no espaço e a realização de tarefas que, por este motivo, só são possíveis à espécie humana. Esta grande mobilidade leva, por exemplo, aos problemas de instabilidade muito frequentes no desporto. Em segundo lugar, o ombro apresenta vários espaços “de deslizamento” entre osso e tendões. É o caso do espaço sub-acromial entre o osso acrómio e o tendão do músculo supra-espinhoso. Com os movimentos repetitivos  em posições extremas, devido à profissão ou desporto praticado, surge o “conflitosub-acromial” em que há uma inflamação e/ou desgaste do tendão por contacto repetitivo com  o osso. Isto leva à inflamação (a conhecida “tendinite”) e mesmo à ruptura dos tendões. Por último, somos cada vez mais activos até uma idade mais avançada o que leva a um desgaste natural dos músculos e tendões. Assim, enquanto na anca ou no joelho, como são articulações de carga, surge a artrose por desgaste da cartilagem, no ombro aparecem com muita frequência rupturas “degenerativas” dos tendões por fadiga.

P.: O que pode ser feito como prevenção para evitar o desgaste dos componentes articulares, sobretudo em pessoas com tarefas laborais ou desportivas repetitivas?
Na prevenção das lesões do ombro é essencial manter um bom equilíbrio muscular. Como o ombro tem músculos e tendões que “puxam” em várias direcções, é frequente surgirem desiquilíbrios por predominância de uns grupos musculares sobre outros devido às tarefas repetitivas do trabalho ou desporto praticado. Assim, é muito importante a compensação dos músculos e tendões menos trabalhados para evitar as situações de instabilidade ou conflito de que falei anteriormente. Depois é também importante “respeitar” a dor quando ela surge e saber que ela é efectivamente um sinal de alarme, que algo vai mal e que é preciso investigar para se poder tratar em tempo útil e não deixar avançar uma eventual lesão.

P.: Depois de só a artroscopia ser solução, o que espera o paciente logo após a cirurgia? Pode dar-nos alguns prognósticos de reabilitação médios para diferentes intervenções por artroscopia nesta articulação?
Actualmente o tratamento cirúrgico das lesões do ombro é praticamente todo efectuado por artroscopia. À excepção das artroplastias por artrose e das fracturas, todas as reparações tendinosas e ligamentares são efectuadas por artroscopia. Esta técnica permite uma cirurgia muito mais anatómica e de recuperação muito mais rápida. Mesmo assim, a cicatrização demora muito e é frequente uma paragem prolongada depois de uma cirurgia ao ombro. Para dar alguns exemplos, depois de uma reparação de uma instabilidade é necessário estar 3 meses sem praticar desporto e depois de uma reparação dos tendões da coifa dos rotadores são necessários de 3 a 6 meses para recuperar um ombro normal. No entanto, é importante ter a noção de que com as técnicas cirúrgicas actuais e com a recuperação adequada e bem acompanhada é possível e frequente a recuperação a 100% para o trabalho e desporto.

P.: Para terminar, algum novo projecto de investigação na calha? Ou sugestão de temas que pensa serem interessantes investigar no futuro?
Actualmente o “projecto” que tenho passa mais pela tentativa de aproximação entre os vários intervenientes no tratamento das lesões do ombro. Tem havido uma sub-especialização progressiva dentro da Ortopedia Geral no sentido de nos dedicarmos a uma só articulação. No meu caso, senti esta necessidade ao terminar a especialidade e fiz uma sub-especialização em Ombro durante 1 ano em Lyon, França em 2003. Desde aí que me tenho dedicado só ao estudo e tratamento da patologia do ombro. Com esta evolução e com a ajuda da tecnologia, a cirurgia do ombro evoluiu muito nos últimos anos e consequentemente melhoraram muito os resultados obtidos nos doentes que tratamos. Julgo que há actualmente a necessidade de aproximação entre o médico assistente, o médico fisiatra, o fisioterapeuta que acompanha e trata o doente e o cirurgião do ombro para que todos falem a “mesma língua” e se possa optimizar o tratamento destas lesões do ombro que são frequentemente tão  incapacitantes mas que têm, hoje em dia, a possibilidade de recuperação total.
 Nesse sentido tenho organizado com alguma frequência reuniões e cursos para médicos de MGF e para fisioterapeutas onde discutimos o que fazemos e as várias vertentes e possibilidades de tratamento das lesões do ombro. A próxima está já programada para Outubro/2013 e deixo aqui o convite e o desafio a quem lida com o Ombro para comparecer e partilhar a sua experiência e abordagem no tratamento destas lesões.


Pedro Costa
Médico Ortopedista, especialista em lesões do ombro
Coordenador da Unidade do Ombro do Hospital Pedro Hispano e do Hospital Privado da Boa Nova
Membro da:
Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia
Sociedade Portuguesa de Artroscopia e Traumatologia Desportiva
Secção do Ombro da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia
SECEC - Sociedade Europeia de Cirurgia do Ombro e Cotovelo



2 comentários:

Unknown disse...

Faço natação e atualmente apareceu me uma dor no bicípete como devo tratar e quais os alongamentos que devo fazer para aleviar a dor.

jaime disse...

Dr,
FUI Operado há 5 samanas ao ombro esquerdo a uma rotura maciça da coifa + tenotomia do lpb. Levei 4 âncoras. Estou a fazer fisioterapia há 8 dias. Nunca tive dores quer antes quer pos cirurgia, excepto noite passada. Quando acha que posso conduzir o automóvel. O meu carro tem direcção assistida e mudanças manuais.
Muito agradeço sua opinião.
Cumprimentos
Jaime

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