O fémur é o maior e mais forte osso do corpo humano.
As fracturas do fémur são comuns e geralmente
afectam o colo do fémur, o corpo (ou diáfise) do fémur ou a extremidade distal do fémur (ou supracondiliana).
As fracturas do colo do fémur localizam-se próximo da articulação da anca e são mais comuns em idosos. A grande incidência de
osteoporose nesta população faz com que pequenas quedas durante a marcha ou nas
actividades do dia-a-dia possam causar uma fractura. Em alguns casos de
osteoporose mais avançada poderá nem haver história de queda, sendo que o
paciente irá queixar-se de dor na anca que pode irradiar para o joelho,
rapidamente deixará de conseguir caminhar e poderá reparar que a perna afectada
estará mais curta, e rodada para fora.
Se o raio-X não for conclusivo, uma RM poderá ser feita
para avaliar a estrutura do osso. Uma das possíveis complicações destas
fracturas tem a ver com a interrupção de irrigação sanguínea para o osso,
podendo ocorrer necrose avascular da cabeça do fémur.
As fracturas da diáfise do fémur são mais frequentes em adolescentes e adultos jovens, e geralmente são causadas por um traumatismo violento, como num acidente de viação ou queda de um lugar alto. Nestes casos a fractura poderá estar associada a lesões potencialmente fatais de outros sistemas
do corpo, e o paciente poderá não estar consciente,
pelo que é fundamental chamar de imediato a emergência médica. Poderá reparar que a perna
afectada estará deformada, e rodada para fora.
Muitas vezes o facto de existir um significativo
derrame pode não permitir ver todas as lesões no osso, no entanto prioridade é
dada à estabilização do doente. As complicações tardias deste tipo de fracturas incluem:
- Embolia gorda,
- Trombose venosa profunda,
- Embolia pulmonar,
- Infecção,
- Cicatrização em encurtamento ou angulação.
As fracturas supracondilianas localizam-se no terço distal do fémur e
geralmente envolvem a articulação do
joelho. Ocorrem como resultado de traumatismo
violento, e numa grande percentagem delas são fracturas cominutivas
intra-articulares. Durante o seu manuseamento é necessário dar atenção especial
à artéria poplítea, que passa atrás do joelho e poderá estar afectada.
Sinais e sintomas/ Diagnóstico
- Dor
- Incapacidade de mover a perna
- Deformidade visível
- Inchaço
- A coxa lesada poderá parecer mais curta pois os fortes músculos da coxa podem traccionar as extremidades da fractura, causando o desalinhamento dos topos ósseos.
O médico irá examinar as lesões e avaliar os sistemas circulatório
e nervoso, bem como a fractura. Vários raio-X podem ser necessários, incluindo raio-X da perna, joelho,
anca e pélvis, para determinar a
extensão da lesão e a
afecção das articulações adjacentes.
Tratamento
Fracturas do colo
do fémur
Se a fractura ocorrer dentro da cápsula articular da
anca deve ser feita fixação interna se a fractura mantiver o alinhamento dos
topos ósseos. A prótese da
anca pode ser considerada para os
pacientes idosos e menos aptos. Nas fracturas com desalinhamento dos topos ósseos
poderá optar-se em pacientes mais jovens pelo realinhamento da fractura por manipulação cuidadosa sob anestesia e posterior fixação
interna, ou pela substituição da cabeça do
fémur por uma prótese, em pacientes idosos e menos aptos. A fixação interna é menos
invasiva e provoca um menor trauma operatório, no
entanto existe um risco maior de ser necessária nova
cirurgia.
Os pacientes que apresentem doença da
articulação prévia à fractura, sejam bastante activos e
tenham uma expectativa de vida razoável, devem
ser indicados para colocação de prótese total da anca, em vez da substituição de apenas um dos
componentes da articulação.
Se a fractura ocorrer no colo do fémur, mas fora da
cápsula articular, deve ser realizada a fixação interna. Nestes casos o resultado
final é semelhante tanto para o tratamento
conservador como para o tratamento cirúrgico, no entanto, neste último a
estadia no hospital e o tempo de recuperação são mais curtos.
Fracturas da diáfise do fémur
Uma haste intramedular
poderá ser utilizada para fixar os fragmentos ósseos, principalmente se as
linhas de crescimento ósseo já tiverem fechado. No caso das crianças é utilizada uma tala gessada ou fixação externa com imobilização.
Fracturas supracondilianas
Inicialmente, o mesmo que para as fracturas
da diáfise do fémur, no
entanto, como o bloqueio do nervo femoral não é tão eficaz, é necessária analgesia adicional.
Nas fracturas não desalinhadas muitas vezes o
tratamento é conservador, através de tracção esquelética com o joelho a 30° de flexão. As fracturas
intra-articulares deslocadas requerem fixação interna.
À excepção da
prótese da anca, todas estas intervenções médicas são seguidas de um período de
imobilização que não deverá ser inferior a 4 semanas. Após este período deve
ser iniciado um programa de fisioterapia. As técnicas que revelam maior
eficácia nesta condição:
- Exercícios para melhorar a flexibilidade, força e equilíbrio (incluindo exercícios em carga)
- A aplicação de calor antes dos exercícios para aumentar a irrigação sanguínea e de gelo no final para prevenir sinais inflamatórios.
- Mobilização articular.
- Educação do paciente e plano de retorno gradual à actividade.
- Massagem de mobilização dos tecidos moles.
Exercícios terapêuticos para as fracturas do fémur
Os seguintes exercícios são geralmente prescritos
após a confirmação de que a fractura está
consolidada. Deverão ser realizados 2 a 3 vezes por dia e apenas na condição de não causarem ou aumentarem os sintomas.
Mobilização
do membro inferior
Deitado, com o fundo das costas apoiado no chão.
Tente chegar o joelho o mais próximo do peito possível. Desça lentamente a
perna para a posição inicial.
Repita entre 15 e 30 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma.
Deitado, com o fundo das
costas apoiado no chão. Tente levantar a perna a direito, o mais alto que
conseguir. Desça lentamente a perna para a posição inicial.
Repita entre 15 e 30 vezes, desde que não desperte
nenhum sintoma.
Em pé, com a região lombar apoiada na bola e os pés
ligeiramente afastados. Dobre os joelhos, mantendo as costas alinhadas. Suba
lentamente para a posição inicial.
Repita entre 8 a 12 vezes, desde que não desperte
nenhum sintoma.
Antes de iniciar estes exercícios você deve
sempre aconselhar-se com o seu fisioterapeuta.
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