Os isquio-tibiais são os músculos da face posterior da
coxa, têm origem comum na tuberosidade isquiática (saliência óssea palpável
atrás da coxa, a meio da prega glútea) e dividem-se em semi-membranoso e semi-tendinoso,
que se inserem logo abaixo e na face medial do joelho e em bicípite femural,
que se insere abaixo e na face lateral do joelho.
No seu conjunto, são
responsáveis por estender a coxa e dobrar o joelho. A sua
acção é importante para manter a perna estendida
enquanto o peso do corpo passa para a outra perna durante a marcha ou a
corrida.
A contusão muscular nos isquio-tibiais é
comum em desportos de contacto e acontece na
sequência de um impacto directo sobre este músculo, que pode provocar danos nas fibras musculares, no tecido conjuntivo e em pequenos vasos sanguíneos intra-musculares.
As contusões musculares nos isquio-tibiais podem ser:
- Intra-musculares, ou seja, dá-se uma ruptura das fibras musculares, sem envolver a bainha muscular (fino tecido que envolve e protege cada músculo). Isso significa que o sangramento inicial pode parar mais cedo (em poucas horas) devido ao aumento da pressão dentro do músculo, pois como a bainha muscular está intacta, impede o fluido de se espalhar para fora do músculo. O resultado é uma perda considerável da função e dor que pode levar dias ou semanas a recuperar. Não é provável a formação de um hematoma visível neste tipo de lesão, especialmente numa fase inicial.
- Inter-musculares, em que há uma ruptura do músculo e de parte da bainha que o rodeia. Isto significa que a hemorragia inicial vai demorar mais tempo a parar, especialmente se não colocar gelo. No entanto, a recuperação é muitas vezes mais rápida do que nas rupturas intra-musculares, pois o sangue e outros fluidos não estão confinados à bainha muscular, podendo ser reabsorvidos mais rapidamente. Um hematoma, que pode alastrar-se a toda a região da coxa, dependendo da gravidade da lesão, é frequentemente observado.
Sinais e sintomas/ Diagnóstico
- Dor resultante de uma forte pancada na face posterior da coxa.
- Pode ter inchaço ou hematoma na região posterior da coxa.
- É comum sentir a amplitude de movimento limitada
- Nas contusões mais graves pode sentir uma descontinuidade quando palpa o músculo, que é indicativo de ruptura muscular significativa. Se for esse o caso deve procurar aconselhamento médico de imediato.
Se após 2-3
dias da lesão o inchaço não passou e tem dificuldade em mexer a perna então
provavelmente tem uma lesão intra-muscular. Se o hematoma se espalhou para
longe do local da lesão, então provavelmente tem uma lesão inter-muscular.
Neste tipo de
lesões é fundamental fazer uma boa avaliação, incluindo
uma história clínica detalhada e exame da perna. Uma ecografia pode
ser pedida para avaliar a gravidade da lesão. Um bom diagnóstico é
muito importante, pois se tentar praticar desporto com uma ruptura completa do músculo, ou uma lesão intra-muscular grave pode inibir o processo de cicatrização
ou provocar uma síndrome de compartimento. Se aplicar calor e massagens nas
fases iniciais, poderá desenvolver um processo de miosite calcificante traumática.
Tratamento
O
tratamento em fisioterapia, imediatamente após a lesão e enquanto o diagnóstico
não está confirmado, consiste e controlar os sinais inflamatórios, através de:
Descanso: Evite caminhar ou
estar muito tempo de pé. Se tiver de o fazer utilize canadianas. Andar a pé pode significar um agravamento da sua lesão.
Gelo: Aplique uma
compressa de gelo na área lesada,
colocando uma toalha fina entre o gelo e a pele. Use o gelo por 20 minutos e depois espere pelo menos 40 minutos antes de aplicar gelo novamente.
Analgésicos e
anti-inflamatórios não-esteróides poderão ser receitados pelo médico para
controlar o processo inflamatório e aliviar as dores.
No período de 3 a 5
dias após a lesão, dependendo da sua gravidade, deve ser iniciado um programa
de fisioterapia. As técnicas que revelam maior eficácia nesta condição:
Para contusões
Grau I (menos graves)
- Técnicas de massagem para acelerar a recuperação (muito importante)
- Exercícios para o alongamento suave dos isquio-tibiais e fortalecimento muscular progressivo
- O atleta deverá reduzir a carga de treino durante uma ou duas semanas, mas não há necessidade de parar a menos que haja dor.
Para contusões
Grau II
- Manter o gelo, a compressão e elevação durante a primeira semana
- A partir do terceiro dia poderá introduzir fortalecimento estático dos isquio-tibiais.
- Mobilização do membro inferior
- Aplicar calor (saco de água quente durante 20 minutos no máximo) e ultra-som
- Ao final da primeira semana introduzir fortalecimento activo
- Manutenção da capacidade aeróbia com natação ou bicicleta.
- A partir da segunda semana começar a correr lentamente e voltar progressivamente às suas actividades normais.
Para contusões
Grau III
- Apenas a partir da 2ª semana se deve iniciar o reforço muscular com contracções estáticas (desde que não provoque dor). Aplicação de calor e ultra-sons. Exercícios de mobilização activa.
- Na terceira semana poderá adicionar exercícios de fortalecimento activo.
- Na semana 4 poderá introduzir natação ou bicicleta, e exercícios de alongamento suave.
- Na 5ª semana deverá iniciar a corrida e os agachamentos. O fisioterapeuta deve elaborar exercícios progressivamente mais parecidos com a sua actividade regular.
Exercícios terapêuticos para contusões musculares nos isquio-tibiais
Os seguintes exercícios são geralmente prescritos durante a reabilitação de uma
contusão nos isquio-tibiais. Deverão ser realizados 2 a 3 vezes por dia e apenas na condição
de não causarem ou aumentarem os sintomas.
Flexão/extensão
do joelho
Deitado, com o
calcanhar apoiado no chão, puxe o pé em direcção à bacia. Retorne lentamente o
pé à posição inicial.
Repita entre 15 e 30 vezes, desde que não desperte
nenhum sintoma.
Alongamento dos isquiotibiais
Em pé, com o calcanhar apoiado num degrau, incline o
tronco à frente mantendo as costas alinhadas. Mantenha essa posição durante 20
segundos.
Repita entre 6 e 12 vezes, desde que não desperte
nenhum sintoma.
Fortalecimento
dos isquio-tibiais
Deitado, com o elástico preso atrás do calcanhar. Puxe
o pé para si e deixe-o voltar lentamente à posição inicial.
Repita entre 8 e 12 vezes, desde que não desperte
nenhum sintoma.
Antes de iniciar estes exercícios você deve
sempre aconselhar-se com o seu fisioterapeuta.
Mendiguchia J, Brughelli M. A return-to-sport algorithm for acute
hamstring injuries. Phys Ther Sport. 2011 Feb;12(1):2-14.
Mason DL, Dickens V, Vail A. Rehabilitation for hamstring injuries. Cochrane Database Syst Rev. 2007(1):CD004575.
2 comentários:
Caro João Maia, desde mais deixe-me dar-lhe os parabéns por esta iniciativa que muito contribui para o esclarecimento da nossa atividade em algumas patologias/ lesões.
Neste caso que se refere eu tenho uma proposta a fazer-lhe será que antes dos exercicios de fortalecimento que se refere dos isquios. Não seria importante fazer um trabalho excêntrico? Acho que iria beneficiar as fibras musculares e o reforço muscular. Cumprimentos
Fisioterapeuta Diogo
Muito obrigado Diogo,
Sim (se reparar o exercício do elástico inclui uma fase de contracção excêntrica) o exercício excêntrico deverá sem dúvida ser incluído neste plano de tratamento, no entanto atenção, por colocar em maior tensão a unidade miotendinosa (cerca de 60% mais comparando com a contracção isométrica p.e.) deve ser aplicado em exercícios terapêuticos nas fases mais avançadas da recuperação, quando os exercícios já mimetizarem mais as funções que é suposto readquirir.
Espero ter ajudado.
At
João Maia
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