As neoplasias da mama não palpáveis e detetadas por mamografia são mais
pequenas que as detetadas pelo exame físico o que lhes confere um melhor
prognóstico.
A mamografia periódica é feita com o intuito de reduzir a mortalidade
por cancro da mama.
Para avaliar o benefício da mamografia periódica e da palpação mamária na
redução da mortalidade por cancro da mama foi iniciado no Canadá, em 1980, um estudo
randomizado e controlado em 89 835 mulheres, com idades entre os 40 e 59 anos.
Foram incluídas apenas as mulheres que cumprissem o critério da idade, não tivessem
realizado nenhuma mamografia nos últimos 12 meses, não se encontrassem grávidas
e não tivessem antecedentes de neoplasia mamária. Foram então divididas,
aleatoriamente, em dois grupos: o “grupo da mamografia”, em que durante 5 anos realizaram
mamografia anualmente e palpação mamária por profissionais treinados e no
“grupo controlo” em que preenchiam anualmente um questionário e, caso tivessem
mais de 50 anos, também seriam submetidas a palpação mamária, sendo o restante
acompanhamento feito no âmbito dos cuidados primários de saúde.
O período de rastreio ocorreu nos
primeiros 5 anos após a randomização e o período de follow-up foi a partir do
6º até ao 25º anos.
RESULTADOS
Legenda: †
mortes Ca- cancro
Durante todo o período do estudo, 3250 mulheres no grupo mamografia e
3133 no grupo controlo tiveram o diagnóstico de cancro de mama, e 500 e 505,
respectivamente, morreram por esse motivo. Assim, a mortalidade por cancro de
mama foi semelhante entre as mulheres nos dois grupos.
Após 15 anos de follow-up um remanescente de 106 cancros foi observado
no grupo da mamografia, atribuível ao sobrediagnóstico representando 22% de
todos os tumores invasivos detectados, ou seja, uma em cada 424 mulheres que
realizaram a mamografia.
Os resultados deste estudo podem não ser generalizáveis a todos os
países, podendo a deteção precoce ser mais benéfica nas comunidades onde a maioria dos cancros que se apresentam clinicamente são de grandes dimensões e
nódulo positivo.
No entanto, nos países tecnicamente avançados a mamografia anual em mulheres com idades entre 40 e os 59
anos não reduziu mais a mortalidade do que o
exame físico e cuidados gerais. Os dados sugerem
portanto que o valor da mamografia deve ser reavaliado.
“Twenty
five year follow-up for breast cancer incidence and mortality of the Canadian
National Breast Screening Study: randomised screening trial”, BMJ
2014;348:g366, Published 11 February 2014
Autora:
Dra. Maria Clara Baldaia
Interna Complementar de Medicina Geral e Familiar na USF Santa Luzia