Entrevista
com:
Dra.
Maria Ribeiro da Cunha
P.:
Existem vários tipos de lesões vertebro-medulares, mas a verdade é que muitas
delas são extremamente incapacitantes a nível físico. Na sua opinião, neste
tipo de lesões, as equipas multidisciplinares constituem uma mais-valia
efectiva para o doente? Em que medida?
R.: Uma Lesão Medular é uma patologia que tem sempre um
impacto significativo na vida de uma pessoa, tanto a nível físico, como
psicológico.
A complexidade e variedade de sequelas que dela podem
advir implica que, para uma abordagem holística e uma reabilitação integral e
abrangente do lesionado medular, o seu acompanhamento seja feito, desde a fase
aguda até ao fim da vida, por um conjunto de profissionais de saúde com
experiência na área. Toda esta equipa deverá dar o seu contributo e elaborar um
conjunto de objectivos comuns que visam minimizar as consequências da Lesão
Medular e promover a autonomia e a integração social, familiar e, se possível,
laboral dos doentes.
A intervenção em equipa pluriprofissional (que deverá
incluir Fisiatra, Fisioterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Enfermeiro de
Reabilitação, Licenciado em Desporto, Psicólogo, Assistente Social), e num
centro especializado em Lesão Medular, torna-se assim fundamental para uma
melhor e mais adequada prestação de cuidados de saúde a estes doentes.
P.:
Muitas vezes é nas lesões mais graves que observamos uma maior dificuldade de
aceitação da doença por parte do doente e dos familiares, sendo frequente
recorrerem a meios menos convencionais de tratamento, colocando muitas vezes em
risco a condição clínica do paciente. Que conselhos pode dar neste sentido?
R.: Qualquer profissional de saúde que preste cuidados
a lesionados medulares deverá fazê-lo tendo em conta a mais recente evidência
científica. A constante actualização nesta área é fundamental para o correcto
aconselhamento dos nossos doentes. Assim, a orientação dada aos lesionados
medulares deve ser sempre no sentido dos métodos com comprovação científica
fidedigna, e sempre cuidando o esclarecimento das dúvidas que se nos coloquem,
incluindo as relativas à segurança dos doentes.
Ainda assim, não nos devemos deixar influenciar pelas
crenças, ética ou moral a termo pessoal e respeitar as opções do nosso doente
sem que isso prejudique o processo de reabilitação.
P.:
Atendendo à natureza de grande parte destas lesões, a readaptação à vida activa
é um passo muito importante. Que dicas/conselhos poderá dar a um doente nesta
situação?
R.: Sem dúvida que a reintegração social e a manutenção
de uma vida activa física e profissionalmente são dos componentes fulcrais na
reabilitação de um lesionado medular. A readaptação laboral que é por vezes
necessária pode ser realizada e as novas competências adquiridas tanto em
centros de reabilitação como em instituições capacitadas para o efeito. É de
ressaltar a existência de apoios sociais que poderão facilitar esta
reintegração e que os doentes deverão conhecer.
Também o desporto adaptado, em qualquer que seja a
modalidade, desempenha um papel de extrema importância para o bem-estar físico
e psíquico dos doentes, tanto pelo exercício físico em si como pela sua
vertente de promoção do convívio e estímulo cognitivo, de maneira que a sua
práctica deve ser estimulada desde que não se verifiquem contra-indicações.
Associações de lesionados medulares são igualmente
muito relevantes na prestação de informação a respeito dos direitos inerentes à
uma determinada incapacidade.
P.:
Para terminar, algum novo projecto de investigação nesta área que pensa merecer
especial atenção? Ou sugestão de temas que seriam interessantes investigar no
futuro?
R.: Existem diversos grupos de investigação básica e
clínica a nível internacional que desenvolvem actividade científica de
reconhecido mérito na área da lesão medular.
Actualmente, muitos dos trabalhos são desenvolvidos nas
seguintes linhas de investigação: neuroprotecção, promoção do crescimento
axonal e remielinização, restabelecimento de redes neuronais, e transplantes celulares
e substratos terapêuticos.
Esperamos que o futuro traga um avanço positivo no que
diz respeito ao tratamento da Lesão Medular, mas penso que muito importante
também será apostar de forma “agressiva” na prevenção deste tipo de patologia
que ainda é, em elevado número, devido a causas evitáveis.
Dra.
Maria Ribeiro da Cunha
Interna do 4º ano de Formação
Específica em Medicina Física e de Reabilitação no Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro - Rovisco Pais
Licenciatura em Medicina pela Faculdade de Medicina da
Universidade de Coimbra
Membro da Ordem dos Médicos Portugueses, Sociedade Portuguesa de
Medicina Física e de Reabilitação, International Society of Physical and
Rehabilitation Medicine, European Society of Physical and Rehabilitation
Medicine, Coordenadora da Secção de Internos da Sociedade Portuguesa de
Medicina Física e de Reabilitação
Já publicou:
- Artigo de revisão a aguardar publicação na “Revista
Internacional de Andrologia” com o título:
“A influência das prostatites crónicas do lesionado medular nas
características do líquido seminal: dúvidas e verdades comprovadas”
- Artigo original
a aguardar publicação na “Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina
Física e de Reabilitação” com o título: “Protocolo de encerramento de traqueotomia
em internamento em Reabilitação”
- Autora do capítulo: “A
Medicina Física e de Reabilitação no Serviço de Cirurgia Cardiotorácica” no
livro “Procedimentos em Cirurgia Cardiotorácica”, Lidel edições técnicas, Lda, Novembro
de 2009; pp. 107-114
Sem comentários:
Enviar um comentário