Tendinopatia
é a descrição genérica das condições clínicas associadas ao uso excessivo do
tendão e dos tecidos envolventes com ele relacionados. Uma tendinopatia resulta
de um processo mal sucedido de recuperação do tendão, em que se dão:
- Proliferação desordenada de tenócitos,
- Anormalidades intracelulares no novo tecido cicatricial,
- Rutura das fibras de colagénio
- Aumento subsequente da matriz extracelular não organizada.
Um tendão
saudável tem um aspeto brilhante, de cor branca e apresenta uma estrutura fibro-elástica.
As células chamadas tenócitos e tenoblastos constituem cerca de 90% a 95% dos elementos
celulares do tendão. Os restantes 5% a 10% de elementos celulares do tendão são
constituídos por condrócitos, localizados na inserção do tendão no osso,
células da bainha do tendão, e células vasculares.
Os tendões e
ligamentos consomem 7,5 vezes menos oxigénio do que os músculos. Isto é
importante pois a baixa taxa metabólica e boa capacidade de desenvolvimento de
energia anaeróbica são essenciais para o transporte de cargas e para se manter
sob tensão durante longos períodos de tempo, reduzindo o risco de isquemia e necrose
subsequente. No outro lado da moeda, uma baixa taxa metabólica resultada numa recuperação
mais lenta após a lesão.
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Atualmente o
termo tendinite está a ser utilizado num contexto temporal cada vez mais
restrito (o processo inflamatório é preponderante apenas numa fase inicial da
lesão), isto porque vários estudos histológicos em amostras cirúrgicas de
pacientes com tendinopatia demostraram consistentemente que a inflamação estava
ausente ou era mínima.
O termo
tendinose é por vezes utilizado em alternativa, sugerindo a característica
crónica desta condição clínica.
No entanto o
termo mais genérico tendinopatia está a ser cada vez mais adotado, como
designação para as lesões no tendão, com origem no conjunto de microrupturas
sofridas por um período prolongado de tempo, e associadas ao uso excessivo
deste. Quando não se dá o tempo suficiente de recuperação após estes esforços
excessivos o tendão não se consegue restabelecer na totalidade, levando a que
fique mecanicamente mais instável e, consequentemente, mais suscetível a sofrer
lesões maiores.
As tendinopatias
mais frequentes são:
- Epicondilite lateral do cotovelo
- Epicondilite medial do cotovelo
- Tendinopatia do tendão rotuliano
- Tendinopatia do tendão de Aquiles
- Tendinopatia da coifa dos rotadores
Sinais e sintomas
O quadro
clássico consiste em dor crescente no local do tendão afetado, que muitas vezes
obriga a uma redução das atividades do paciente. Normalmente, a dor está
relacionada com a carga/carregar pesos.
Geralmente o
paciente é capaz de localizar a dor de forma clara, e esta é descrita como
“grave” ou “aguda” durante as fases iniciais e como uma dor “maçante” ou
“moedeira”, quando já está presente há algumas semanas .
Muitas vezes
a dor está presente no início da atividade, desaparece durante a atividade em
si, para reaparecer mais forte quando arrefecer ou se a atividade for
prolongada.
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Avaliação clínica
O exame físico
inclui inspeção de atrofia muscular, assimetrias, inchaços e eritema. A atrofia
muscular está muitas vezes presente em condições crónicas e é uma pista
importante para avaliar a duração da tendinopatia. Inchaço, eritema e
assimetria são comumente observados ao examinar tendões lesados. Nos testes de
amplitude de movimento, muitas vezes o lado sintomático está limitado.
O exame
físico deve incluir testes que apliquem carga sobre o tendão, de forma a reproduzir
a dor e outros testes de carga que incidam sobre estruturas alternativas.
Fisioterapia
- Exercícios excêntricos: Têm sido propostos para promover a formação de fibras de colagénio transversais dentro do tendão, facilitando assim a remodelação do mesmo. Os estudos mais recentes sugerem um efeito positivo dos exercícios excêntricos nas tendinopatias, sem efeitos adversos relatados.
- Terapia por ondas de choque extracorpóreas: Cada vez mais utilizada entre a comunidade médica, a justificação para a sua utilização é a estimulação da cicatrização dos tecidos moles e da inibição dos recetores da dor. Relativamente à terapia por ondas de choque extracorpóreas de baixa energia, que não requer anestesia local, ainda não há consenso científico. A terapia por ondas de choque extracorpóreas de alta energia, requer anestesia local ou regional.
- Terapia laser: Não há consenso sobre o uso do tratamento a laser para tendinopatias, e um certo número de perguntas permanece sem resposta, como o papel do laser quando usado em combinação com outras intervenções, especialmente com os exercícios terapêuticos, na fase de remodelação do tendão.
- Iontoforese e fonoforese: envolvem o uso de corrente ionizante ou ultra-som para administrar medicação localmente. Corticoides e anti-inflamatórios não esteroides são comumente usados nestas modalidades. Ambos são amplamente utilizados e com relativa eficácia, mas faltam investigações que resultem em recomendações de confiança.
- Massagem transversal profunda: Definida como "uma pressão administrada com precisão, penetrante, aplicada através da ponta dos dedos". Atualmente há poucas evidências disponíveis para apoiar o uso desta técnica no tratamento de tendinopatia. Uma revisão da Cochrane avaliou os efeitos da massagem transversal profunda e não encontrou nenhum benefício desta em relação a outros tratamentos.
- Ultra-som: Comumente utilizados no tratamento da tendinopatia, apesar disso, há pouca pesquisa clínica sobre a eficácia deste no tratamento de tendinopatia ou na promoção da cicatrização do tendão. A maioria dos estudos in vivo documentaram a eficácia do tratamento com ultra-sons. Mas para uma prática baseada em evidências, mais estudos, ensaios randomizados, são essenciais para elucidar a eficácia do ultra-som terapêutico na promoção da cura e tratamento da tendinopatia.
- Hipertermia: os primeiros dados sobre a hipertermia são encorajadores, mas ainda pouco consistentes. Apenas dois ensaios clínicos randomizados (feitos pela mesma instituição) foram publicados, comparando este método com o ultra-som terapêutico no tratamento da tendinopatia. Estes ensaios referem melhorias na dor e a satisfação do paciente no grupo que fez hipertermia em comparação com o grupo do ultra-som.
CONCLUSÃO
Em geral, será
razoável selecionar para o tratamento de um paciente com tendinopatia,
fisioterapia envolvendo um programa de exercícios excêntricos, a ser realizado
durante doze semanas. Se a condição de não responder a esta intervenção, a
terapia por ondas de choque ou ionização com salicilato podem ser considerados,
embora a evidência sobre sua eficácia é limitada. O tratamento cirúrgico deve
ser discutido com o paciente depois de pelo menos três a seis meses de
tratamento não-cirúrgico sem resultados. Além disso, os pacientes devem
entender que os sintomas podem reaparecer tanto com abordagens conservativas como
cirúrgicas.
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